Godhound: Entrevista exclusiva com o guitarrista Victor Freire

Godhound: Entrevista exclusiva com o guitarrista Victor Freire

September 29, 2022 0 By Geraldo Andrade

É impressionante o número de ótimas bandas que surgem no Brasil, a cada ano que passa. E uma dessas bandas da nova geração, que vem se destacando no cenário brasileiro, é a banda Godhound. A banda vem do Rio Grande do Norte e com certeza, é uma das mais promissoras da atualidade. Então a Revista Freak, foi conhecer um pouco mais da banda, conversamos com o guitarrista Victor Freire, que nos contou um pouco da história da banda, do primeiro álbum que acaba de ser lançado e muito mais. Vale a pena conferir!

godhound entrevista

Foto Crédito: Divulgação Godhound

Em primeiro lugar muito obrigado por terem aceito o convite para a entrevista.
Victor:
Olá, pessoal, nós que agradecemos o espaço para falar um pouco da nossa história para vocês.

A banda surgiu em 2010, em Natal/RN. Conta como foi o “nascimento” da banda? O que levou vocês a montarem uma banda de rock no Rio Grande do Norte?
Victor:
Quando a banda surgiu estávamos ainda na faculdade – podemos até dizer que ela começou dentro da UFRN, praticamente. Vitor Assmann e eu estávamos estagiando no mesmo laboratório, dentro do curso de Engenharia Mecânica, quando em meios às conversas eu disse que tocava guitarra, mas que nunca tinha tido uma banda e meu irmão também, Kael Freire; ele lançou a proposta de montarmos uma banda de rock n’roll – ele já tinha tido uma banda antes, o Brand New Hate, e sabia mais como organizar o “ambiente”. Assim, ele recrutou Alessandro Natalini, baterista e Hilton Trindade, vocalista, para compor a banda e começamos a ensaiar ali no final de 2010.

A tradicional pergunta: Influências?
Victor:
A ideia da banda era ter esse som mais puxado para o rock n’roll, mas acabou que fomos incluindo mais influências ao longo do caminho. Inicialmente, a proposta era algo mais na linha The Hellacopters, que é uma banda que Vitor gosta muito, mas que Kael e eu nunca havíamos escutado. Como éramos mais da escola do metal, acabamos incluindo um pouco de Judas Priest nas músicas até que chegamos no denominador comum de todos – o Motörhead. A banda ficou mais direcionada para essa linha ao longo de sua trajetória e incluímos também um pouco de blues e southern rock depois, trazendo a influência do ZZ Top e do Lynyrd Skynyrd – bandas que curtimos bastante.

Qual é a atual formação da banda? Nesses 12 anos tivemos mudanças de membros?
Victor:
A banda está atualmente com Kael Freire (baixo e vocal), Victor Freire (guitarra), Vitor Assmann (guitarra) e Lázaro Fabrício (bateria). Em todo esse tempo tivemos duas mudanças na formação. Primeiramente, o vocalista Hilton Trindade precisou deixar a banda em 2012 e Kael Freire assumiu os vocais. Posteriormente, em 2014, Alessandro Natalini precisou ir morar na Itália e deixou a banda, o que abriu o espaço para Lázaro Fabrício, nosso amigo de longas datas e que já havia tocado conosco em um par de shows, assumir as baquetas.

Do que falam as letras das músicas da Godhound?
Victor:
As letras falam um pouco do cotidiano, de maneira resumida. A grande maioria traz uma mensagem motivacional e positiva, muitas vezes de maneira metafórica e até mesmo alegórica. Mas, abrimos espaço também para discutir algum problema que vemos na sociedade de maneira geral e que nos causa revolta.

godhound entrevista

Foto Crédito: Divulgação Godhound

Vocês lançaram 02 trabalhos seguidos, “Godhound (2012) e God Above…. Hound On The Road (2013). Fale um pouco desses primeiros trabalhos? Foi onde vocês definiram o caminho a seguir?
Victor:
Os dois primeiros EPs foram lançados bem próximos porque a banda estava em um ritmo bem frenético de trabalho naquele momento inicial. O primeiro EP foi gravado em 2011 ainda, sendo que como tinha sido a primeira experiência de gravação da maioria dos membros, com exceção de Vitor Assmann, o resultado acabou por não ficar muito satisfatório. Assim, regravamos o EP em 2012, com uma leve modificação nas músicas, e esse é o trabalho que está lançado hoje. Essa versão de 2011 espero um dia colocar como “bônus” em algum trabalho futuro, porque é um item histórico para nós. A partir do momento que lançamos o primeiro EP, continuamos os ensaios e composições também, o que nos fez fechar o segundo EP logo no ano seguinte. O “God above…Hound on the road” definiu mais a linha que estamos seguindo atualmente, porque o primeiro EP soava mais rock n’roll ritmado (algo ainda mais “Hellacopters”) e o segundo entrou mais na linha do rock n’roll “riffado” de fato, que é o que temos mais nas músicas atuais. Pode ser notado também que nesse curto período entre os EPs, as músicas já amadureceram um pouco em termos de estrutura.

Nesses mais de 10 anos, vocês tocaram muito pelo Nordeste, agora com o novo trabalho, está na hora do Brasil conhecer mais a banda?
Victor:
Com certeza! Esperamos muito levar as músicas do “Refueled” para mais lugares no Brasil agora. Naquela época, há 10 anos, ainda éramos estudantes, logo, não podíamos alçar voos maiores, por exemplo, ir ao Sudeste. Por isso, só acabamos fazendo shows pelas proximidades do Rio Grande do Norte. Mas, agora, esperamos ir um pouco mais longe nesta turnê.

Como é a cena Rock/Metal no Rio Grande do Norte? Um Estado pouco citado, quando se fala em rock/metal no Brasil.
Victor:
Particularmente, acho bastante forte a cena do rock/metal do nosso estado. Temos bandas que já fizeram turnês pela Europa e Estados Unidos, como é o caso do Camarones Orquestra Guitarrística e pela América do Sul, como foi o Monster Coyote. O Heavenless é uma banda bastante boa daqui do nosso estado também, trazendo uma sonoridade dentro do death metal, e tocaram, inclusive, no grande festival Abril Pro Rock. Outra banda que nasceu aqui no nosso estado – eles ensaiavam até no mesmo estúdio que nós – e que hoje é uma das grandes bandas do Brasil é o Far From Alaska. Deixando de lado as bandas, temos aqui no nosso estado um dos maiores festivais de música independente do Brasil, que é o Festival Dosol, que vai acontecer esse ano lá na Arena das Dunas (estádio utilizado na Copa do Mundo de 2014, em Natal/RN) com uma grande estrutura! Enfim, é bastante movimentada a cena aqui do RN.

Falando no novo trabalho, vocês lançaram recentemente o ótimo “Refueled”. O que podemos esperar desse trabalho?
Victor:
O “Refueled” é o nosso primeiro álbum de fato e particularmente o acho bastante intenso. É difícil falar do próprio álbum, porque você acaba querendo comentar em detalhes cada composição, mas, sugiro ouvirem ele para sentir o que estou tentando falar aqui. Ele está disponível nas principais plataformas de streaming.

Porque a banda demorou 09 anos para lançar um álbum completo?
Victor:
A banda estava em atividade até o final de 2014, aproximadamente; inclusive, estávamos naquela época já planejando a gravação do álbum. O que aconteceu é que ao mesmo tempo todos tiveram que parar um pouco as suas respectivas atividades na banda para se dedicar a suas carreiras profissionais. Eu fui morar em Florianópolis/SC para fazer doutorado, Kael Freire entrou na residência médica, Alessandro Natatini foi para Roma e Vitor Assmann assumiu um cargo novo lá na empresa que trabalhava que necessitava ficar viajando muito, ou seja, “ensaios: nem pensar!”. Enfim, entre 2015 e 2019 a banda meio que entrou em um hiato. Em 2019 foi quando eu voltei a morar no RN que todo mundo estava mais estabilizado também que retomamos as atividades. Assim, retomamos os ensaios e as composições, mas acabamos por não aproveitar nenhuma música das que estavam sendo compostas ali em 2014 para o “Refueled”, porque nossa mentalidade havia mudado desde aquela época e queríamos incluir isso nas novas músicas.

Como foi o processo de gravação e produção de “Refueled”?
Victor:
A produção do “Refueled” começou em 2020, em meio à pandemia. Foi um processo bastante atípico, porque tivemos que fazer tudo remotamente. Kael Freire compunha um riff e enviava para opinarmos, ou eu escrevia uma letra, etc. Enfim, tudo foi feito praticamente pelo WhatsApp. Como moro perto da casa de Kael Freire, que é onde fica o Lumbersound Studio, acabei conseguindo trabalhar presencialmente com ele em muitas coisas nas músicas, por isso até assinamos a produção do álbum – foi nosso primeiro trabalho. A gravação também foi desafiadora, porque nesse ano de 2020, Kael começou a estudar sobre gravação e comprou vários equipamentos – foi aí que ele montou o Lumbersound Studio. No começo da pré-produção, quando estávamos ainda gravando as demos para fecharmos detalhes nas músicas, lancei o desafio de gravarmos o “Refueled” no Lumbersound Studio, seria o primeiro trabalho dele nesse sentido. E assim o fizemos. Como o processo foi todo remoto, a pré-produção acabou durando o ano todo de 2020, entre gravar as demos, ajustar detalhes, etc. E só em 2021 é que começamos as gravações. Como ainda estávamos com um certo isolamento, tudo levou mais tempo do que o normal. Além da engenharia de gravação, Kael também fez a mixagem do “Refueled”, apenas a masterização que optamos por enviar para outro estúdio para podermos ter uma segunda opinião sobre a sonoridade, uma vez que era o nosso primeiro trabalho, de fato, em produção e gravação.

São 08 músicas inéditas? Como funcionou o processo de composição das músicas?
Victor:
As 8 músicas do “Refueled” são inéditas, se não me engano, apenas uma delas, que é Jack the Lumber, a gente já havia tocado em um show, além de Gravestone, que havíamos lançado como single ainda em 2019. Mas, todas as outras foram compostas exclusivamente para o álbum. Sobre as composições, elas foram feitas de maneira remota – o fato de termos um estúdio à disposição facilitou muito o processo. Conseguíamos gravar um riff e enviar para Vitor Assmann compor um solo em cima dele ou Lázaro pensar em uma linha de bateria. O único “porém” é que o processo fica mais demorado do que quando compúnhamos no ensaio. Algumas músicas foram iniciadas em 2019, antes da pandemia, ainda nos ensaios, mas outras foram compostas inteiramente de maneira remota, como foi o caso de Diesel Burner, Open Letter e Takeover. Essas músicas foram até mais desafiadoras na gravação porque nunca havíamos sequer tocado elas juntos! Ocorreu de tocarmos ela em ensaio só após o álbum estar lançado, o que imagino não ser um processo muito comum em uma banda.

A arte da capa de “Refueled” é muito linda. Qual o significado e quem desenhou a arte?
Victor:
A arte surpreendeu bastante! Curtimos demais desde o primeiro rascunho que nos foi enviado. O ilustrador responsável foi o Wildner Lima, que trabalhou já com o KISS e Motley Crue. Nós queríamos algo impactante para o “Refueled”, já que seria o trabalho que simbolizaria a nossa volta aos trabalhos na banda, assim, saímos pesquisando artistas que pudessem trazer esse sentimento. Quando vimos o portfólio do Wildner foi unanimidade na banda que ele seria o escolhido para o trabalho. Deixamos a concepção da arte toda com ele, falamos apenas que queríamos retratar a nossa região o máximo possível. Assim, ele colocou a figura da carcaça do boi toda adornada de joias, como os cangaceiros tradicionalmente utilizavam. A coloração foi toda remetida ao período barroco e incluiu alguns elementos de arte sacra, representando muito da nossa história. Para completar, pedimos para ele representar o carcará, que é a nossa ave de rapina mais tradicional. Curtimos tanto o carcará que até incluímos ele como label no CD físico.

godhound

Trabalho novo lançado, pandemia praticamente no fim. Quais os planos para o resto de 2022?
Victor:
Nossa meta para 2022 é levar o “Refueled” para o máximo de pessoas possível. Com o lançamento do CD físico, queremos que mais pessoas tenham oportunidade de escutar o álbum, de todos os cantos do Brasil e também mundo. A turnê terá início neste ano aqui em Mossoró/RN, mas a maioria das datas serão incluídas no próximo ano, principalmente no Sul e Sudeste. Esperamos muito conseguir levar nosso som para novos lugares.

Um recado para os fãs e leitores da Revista Freak:
Victor:
Gostaríamos que agradecer a todos aqui na Revista Freak pela oportunidade de falar um pouco sobre o nosso som e contar sobre nossas origens. Para você, leitor, gostaríamos de dizer que se curte um rock n’roll com uma pegada mais clássica e uma leve adição de peso, pode ouvir o “Refueled” no último volume porque esse álbum é para você! Caso se interesse pela banda, nos procure no Instagram (@godhound_), Facebook (@godhound) e acompanhe o nosso canal no YouTube (@godhound) para ficar sabendo das últimas novidades. Temos mais materiais legais do “Refueled” ainda por lançar e um novo projeto de EP para o próximo ano.

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