Tattoo & Rock N’Roll: Entrevista exclusiva com o baterista e tatuador EDSON GRASEFFI

Tattoo & Rock N’Roll: Entrevista exclusiva com o baterista e tatuador EDSON GRASEFFI

July 1, 2020 0 By Gema

Conversamos com o baterista, vocalista e tatuador Edson Graseffi, que além de ter sua carreira de músico consolidada como baterista, é também o organizador da maior convenção de tatuagem do interior de São Paulo, a ‘Expo Tattoo Atibaia’.

Edson Graseffi fez parte por 27 anos como baterista da banda Panzer, um dos principais nomes do Thrash Metal Brasileiro dos anos 90 e 2000, com tours pelo Brasil e pela América Latina em países como Uruguai e Argentina. Também fez parte da banda “Heavy/Thrash” Reviolence e hoje é um dos poucos bateristas /vocalistas do mundo, da banda de Stoner Metal paulista “Cosmic Rover”. 
Além de toda esse currículo como músico, Edson também tem sua carreira consolidada como tatuador sendo o organizador da maior convenção de tatuagem do interior de São Paulo a ‘Expo Tattoo Atibaia’. Fomos conversar com esse artista paulista e descobrir como ele conseguiu essa combinação perfeita no seu estilo de vida entre o rock n’roll e tattoos!

Edson Graseffi Cosmic Rover

Foto: Divulgação Nervosa

Fale um pouco de você, da sua carreira de músico e de tatuador!

Edson:  Antes de mais nada obrigado pela oportunidade de falar da minha carreira. Falando sobre minha carreira de músico, eu sou baterista há 34 anos. Sempre fui um apaixonado por música desde criança, cantei por muitos anos em corais infantis o que foi muito útil para minha formação musical e onde desenvolvi minha voz. Em relação a bateria, desde moleque fui impactado pela questão  visual da bateria e em 1986 tive o contato com meu primeiro kit de tambores. A partir dali foi uma trajetória longa até me profissionalizar. Eu costumo dizer que a minha história como baterista se confunde com as histórias de minhas bandas. Em 1991 eu iniciei o Panzer, juntamente com meu irmão. Essa banda teve uma história longa de 25 anos dentro do cenário Metal, com uma discografia grande e muitos shows pelo Brasil e América Latina. Foi dentro do Panzer que realmente eu desenvolvi meu estilo de tocar e que apliquei em outras bandas que vieram a seguir. Hoje eu sou baterista e vocalista do Cosmic Rover (@cosmicrover), banda que formei em 2017. Tenho orgulho em dizer que   hoje sou um dos poucos bateristas/vocalistas do mundo, onde sou responsável 100% das vozes principais da banda, o que é uma tarefa bem difícil de executar e que requer uma grande dose de dedicação para se chegar a um resultado profissional. Quando olho para trás e vejo que gravei mais de 25 títulos, entre CDs, DVD, Eps, Singles e Demos vejo que essas 3 décadas foram muito ativas e tenho muito mais a mostrar e produzir.

Quanto a minha trajetória dentro do mundo da  tatuagem, vou contar minha história que é um pouco diferente da maioria dos tatuadores. Eu costumo dizer que eu sou desenhista antes de ser tatuador. Enquanto toda essa história com música e bateria se desenrolava, eu também estudei desenho no inicio dos anos 90. Eu sempre fui o tipo de garoto que preferia desenhar do que jogar bola. Desenhar sempre esteve presente no meu dia a  dia desde que nasci e quando terminei o estudo médio fui estudar desenho. Tive a sorte de ter sido aluno de dois grandes mestres da ilustração brasileira, Mario Tabarim e Miniguitti. Esses 2 caras abriram minha mente para a ilustração, abrindo caminho para o artista que sou hoje. Mas depois que me formei como desenhista, como os caminhos da música sempre estiveram comigo,  eu acabei abandonando todo o lance com desenho para me dedicar exclusivamente ao estudo da bateria e me dedicar totalmente a minha carreira de baterista. Isso foi de certa forma prejudicial para mim, pois talvez eu tivesse me envolvido com tatuagem muito antes do que realmente aconteceu, porém a música me levou para muitos lugares que eu nunca imaginaria que iria e realizei muita coisa que desejava realizar como músico.

Mas meu amor a arte da ilustração acabou falando mais alto e um certo dia resolvi aprender a tatuar,  porque sempre vi na tatuagem uma forma de expressão artística incrível. Eu sempre fui atraído por aquelas revistas de tatuagem dos anos 90 e aquilo tudo sempre me fascinou. Eu tive que me adaptar a todo o processo de tatuar, pois eu trazia comigo “vícios do papel”. Meus 2 primeiros anos tatuando foram um processo de estudo onde me dediquei de forma quase que “maníaca” ao processo de tatuar, almejando minha evolução como profissional. Foi um período duro pra mim, onde abdiquei de muitas coisas para estudar tatuagem e esse processo de dedicação valeu a pena. Costumo dizer que eu ja trazia comigo um “background de informação” devido a minha formação como ilustrador e eu apenas precisei adaptar isso ao meu processo de tatuar. Uma vez me disseram, de forma negativa, que o fato de alguém  desenhar bem não significava que eu iria tatuar bem. Hoje posso responder que esse pensamento é equivocado pois vejo que é necessário conhecer profundamente a arte da ilustração para ser um bom tatuador, senão você sempre será um profissional mediano e  que não tem sua própria assinatura no seu trabalho.

Edson Graseffi tattoo

Qual foi sua inspiração para se tornar um tatuador? E suas influências?

Como disse acima, eu sempre fui fascinado por aquelas revistas de tatuagem nos anos 90. Eu costumava ir diariamente a uma livraria próxima ao meu trabalho na época para ficar folheando aquelas revistas importadas e imaginava como faziam aquilo na pele. Devido a isso, quando comecei a tatuar sempre tive o estilo oriental como base do que era tatuagem, pois era o que essas revistas sempre traziam no seu conteúdo.

Até hoje defendo que a tatuagem oriental é a base fundamental para qualquer estilo, principalmente quando falamos da questão do encaixe da imagem  na anatomia do corpo e na composição do trabalho. Porém quando  tive contato com a tatuagem Neo Tradicional aconteceu uma reviravolta na minha mente e comecei a me dedicar ao estilo. O workshop que fiz com o tatuador Toni Donaire foi fundamental para que eu entendesse realmente a forma de criar e tatuar esse estilo e a partir dai comecei produzir meu material, buscando uma assinatura no meu trabalho. Nos dias de hoje tenho me dedicado a estudar o estilo Neo Japanese que acaba se fundindo com o Neo Tradicional em muitos pontos, na minha concepção.

Posso dizer que artistas como Toni donaire, Damian Robertson, James Tex, Daniel Bauti, Maria Lavia, Samantha Smith são algumas das grandes influências no meu trabalho.

Edson Graseffi tattoo
Edson Graseffi tattoo

Qual seu estilo preferido para tatuar?

Como todo tatuador brasileiro eu precisei me adaptar a preferência do público daqui. Infelizmente no Brasil o tatuador que se dedicar unicamente a um estilo não consegue sobreviver. Eu tenho meu próprio estúdio e tenho que fazer um pouco de tudo para trabalhar diariamente e mantê-lo funcionando, eu acredito que isso seja uma coisa positiva pois te abre a mente artisticamente para várias formas de expressão na tatuagem, tornando seu trabalho mais sólido e rico,  porém é preciso estudar o básico de cada estilo para poder executá-los de forma correta.

Essa busca por conhecimento me levou a estudar realismo de forma mais profunda e me ajudou a dominar o estilo também. Então o Neo Tradicional e realismo são estilos que mais gosto de tatuar, além do blackwork que faço a minha maneira mixando com o Neo Trad.

Acredito que esse ano ainda será lançado meu primeiro livro de Sketchs Neo Trad, que produzi para uma editora brasileira.

Edson Graseffi tattoo
Edson Graseffi tattoo

Nos viemos de uma geração que foi percursora das tattoos concorda? Antes se tatuar era mal visto! Lembra de sua primeira tattoo?

Sim realmente se tatuar no passado era algo apenas para os mais rebeldes. Normalmente era o pessoal ligado ao Rock e estilos mais underground que tinham tattoos pelo corpo. Minha primeira tatuagem é uma caveira no estilo “Pushead” que tenho no tornozelo direito. Quando fiz foi uma homenagem ao Metallica (da fase visceral dos 3 primeiros álbuns com Cliff Burton). Essa tattoo antiga abriu espaço para eu ter várias outras tattoos de bandas de Metal na mesma perna, Kiss, Motorhead e outras que ainda virão…

Edson Graseffi tattoo

Você é o organizador da maior convenção de tattoos do interior de São Paulo a ‘Expo Tattoo Atibaia’. Como surgiu a ideia?

Sim, a Expo Tattoo Atibaia é obra do trabalho conjunto com minha esposa Carla que também é tatuadora. Nós vivemos em Atibaia por alguns meses e percebi que a cidade tinha um ótimo potencial para receber um evento desse porte abrindo espaço para toda a região bragantina que abrange muitos municípios. Como eu sempre fui envolvido com produção de shows e tours de bandas, não foi difícil usar esse conhecimento para montar o evento, só precisei me adaptar a uma nova realidade de produção e network, mas lidar com pessoas e artistas seja na tatuagem ou na música é bem parecido. Nós sempre participamos de outras convenções como tatuadores, nós gostamos muito disso. Porém sempre observei vários problemas de organização, falhas na forma em como os eventos são conduzidos em vários sentidos. Nós montamos nosso evento tentando evitar todos esses erros que vimos por aí, o que tornou a Expo Tattoo Atibaia em um evento reconhecido no interior de SP. Hoje estamos indo para a terceira edição e sempre tentando melhorar a Expo, tanto para o público e os 200  tatuadores  participantes.

Edson Graseffi tattoo

Qual a relaçao rock e tattoos? É uma combinação perfeita?

Cara, para mim sempre foi a relação perfeita. É a estética da rebeldia e da forma de expressar liberdade, afinal de contas a essência do Rock sempre foi isso. A tatuagem sempre esteve ao meu redor de alguma forma devido a minha relação com Rock e Metal. Eu cresci em uma cidade chamada Mairiporã e lá existia um local chamado “Esquina do Pecado” onde todos os roqueiros, headbangers, punks, billies, junkies, loucos e desajustados da região se encontravam nos finais de semana. As primeiras tatuagens que vi de perto foram ali. Toda minha trajetória dentro da música me levou ao encontro com pessoas tatuadas. Sempre foi uma ligação muito forte. Sem falar nas tatuagens do Steve Harris e Dave Murray (Iron Maiden) que sempre chamaram atenção da molecada da época.

Edson Graseffi Cosmic Rover

Fale um pouco do seu estúdio e deixe seu Instagram para contato!

Meu estúdio atual fica em São Paulo, na zona norte. Somos um estúdio privado onde atendemos apenas por hora marcada. Aqui eu divido meu trabalho com minha esposa que trabalha com toda a parte de tatuagens femininas . Eu gosto de trabalhar com projetos de cada cliente de forma única, dando o melhor de mim para chegar a um resultado com excelência. Nos últimos anos tenho me especializado em cobertura e reformas, coisa que a maioria dos tatuadores evitam. Como tenho uma base forte como ilustrador, isso tem facilitado meu trabalho para chegar em ótimos resultados em coberturas. Felizmente tenho hoje clientes que vem até de outras cidades e até de outros estados apenas para tatuar comigo. 

Edson Graseffi tattoo
Edson Graseffi tattoo

Para ver meu trabalho completo vocês podem visitar meu instagram @graseffitattoo.

Para os que quiserem saber mais sobre meu trabalho com músico segue meu site com informações de toda minha carreira: www.edsongraseffi.com.br

Matérias Relacionadas

Please follow and like us: