Entrevista: MARCELO VASCO, o artista gráfico brasileiro que está dominando o mundo do metal!

Entrevista: MARCELO VASCO, o artista gráfico brasileiro que está dominando o mundo do metal!

May 16, 2019 0 By Edu Rod

Você pode não reconhecê-lo na rua e até não saber seu nome, mas com certeza seu trabalho você já viu e pode estar dentro da sua casa, nos palcos dos grandes shows que você vai e até estampado naquela camiseta da sua banda preferida. Conversamos com o artista gráfico brasileiro de maior expressão no mundo do metal internacional: Marcelo Vasco. 

Lembro no início dos anos 90 quando a banda Sepultura começou a se destacar no mercado internacional, tocando em grandes festivais e aparecendo nas capas das maiores revistas do segmento, desbravando caminhos onde nenhuma outra banda brasileira de rock ou heavy metal sequer havia chegado próximo antes, e que eu, assim como muitos brasileiros que curtiam o estilo, nos sentíamos orgulhos por cada conquista e por estarmos sendo tão bem representados lá fora. Hoje vejo a carreira do artista gráfico Marcelo Vasco seguindo um caminho semelhante. Marcelo Vasco não é apenas um artista gráfico brasileiro, é “O Artista Gráfico Brasileiro” e está conquistando e dominando seu espaço no mundo do metal mundial, tendo sua arte estampada em lugares onde antes pareciam ser inatingíveis para um artista brasileiro, contando em seu currículo com trabalhos desenvolvidos para bandas como Slayer, Machine Head, Kreator, Soulfly, Cavalera Conspiracy, Hatebreed, Dark Funeral, Testament, Dee Snider, entre outras grandes estrelas do heavy metal. 

Nascido no Rio de Janeiro e radicado na Serra Gaúcha, Marcelo Vasco além de estar imortalizando sua arte nas capas de discos e materiais gráficos das grandes bandas de metal, também está sendo reconhecido pela mídia mundial, tendo atingido primeiro lugar na categoria “Master Artist” do prêmio norte-americano “Black Stars Awards” (promovido pela Darkadya Books), participando de exposições ao redor do mundo e tendo sua arte publicada em livros e revistas especializados como “Arte Arcana“, “And Justice for Art #2“, “Metal & Hardcore Graphics“, “Darkadya Book #2“, “Heavy Music Artwork“, “Inside Artscum“, entre outros, além de ter sido capa da revista americana “Via Omega”.

Entrevista Marcelo Vasco

Confira abaixo o bate papo que tivemos com Marcelo Vasco onde nos conta um pouco da sua trajetória, sobre o seu processo criativo e como é trabalhar para as grandes estrelas do metal. Check this out!

Marcelo, primeiramente gostaria de agradecer a você por nos conceder essa entrevista e dizer que sou um grande fã e admirador do seu trabalho. Gostaria de iniciar por como você começou a desenhar e em que momento o hobby se tornou profissão?

Marcelo Vasco: Bom, a história é um pouco longa, mas vamos lá… Comecei a me interessar pelo desenho desde muito cedo, quando eu ainda era uma criança, mas obviamente nada sério. Aquela coisa de querer estar sempre com papel e lápis na mão, rabiscando qualquer coisa, como toda criança (risos). Mas eu era bastante apegado a isso, o que já dava sinais de um certo caminho… Até que pelos meus 8 anos eu comecei a desenhar monstros para meus colegas na escola. Eu estava fissurado nos filmes de Terror e Sci-Fi, isso foi a minha inspiração inicial. O desenho virou um passatempo muito legal e tomei gosto pela coisa, sempre indo um pouco mais a fundo. Um belo dia um amigo meu levou uma fita K7 do irmão mais velho, pedindo para eu desenhar pra ele o monstro que estava na capa. O tal monstro era a mascote Eddie, do Iron Maiden e o disco era o “Killers”. Ele me emprestou a fita, eu levei pra casa, desenhei o monstro e fiz algo que mudou a minha vida pra sempre… Coloquei ela no toca-fita e dei Play (risos). Já era! Nunca mais fui o mesmo. Antes daquele momento eu não fazia muita ideia do que era o Heavy Metal, então essa situação sem dúvida foi um divisor de águas. Entrei de cabeça, comecei a estudar violão aos 9 anos e aos 12 peguei a guitarra. Como meu pai era Analista de Sistemas, tive acesso a computadores desde cedo no trabalho dele e em 94 tivemos o primeiro computador em casa, quando dei de cara com o Photoshop. Eu sempre fui muito curioso, então fui mexendo, tomando gosto e aprendendo a usar. Passei o resto dos anos 90 tocando guitarra, formando bandas e cada vez mais interessado por arte digital. Juntei a paixão pela arte gráfica com a paixão pela música! Ainda nos anos 90 comecei a fazer capas para minhas próprias bandas e algumas bandas de amigos. Com o famoso “boca a boca” surgiram meus primeiros clientes e no começo dos anos 2000 assinei minha primeira capa internacional, para a banda sueca Lord Belial. A partir dali os trabalhos começaram a pintar com um pouco mais de força. Não era minha profissão, nem de longe, apenas um hobby remunerado, que me ajudava a comprar meus discos (risos). Eu cursava Administração de Empresas e acabei largando. Eu não estava nada feliz. Então por volta de 2003 eu descobri uma faculdade de Design Gráfico no Rio e me inscrevi. Antes disso só existiam cursos técnicos ou Desenho Industrial, não era bem o que eu queria fazer. Durando a faculdade já comecei a trabalhar como Designer Gráfico para uma empresa que vendia e produzia suplementos alimentares. Paralelo a isso mantive meu trabalho gráfico no mundo da música, como um complemento de renda. Os trabalhos já chegavam o com maior volume e intensidade e comecei a ver que talvez isso pudesse virar de fato minha profissão, em tempo integral. Eu ficava receoso obviamente, pois naquele momento eu já tinha minha vida, minha casa, era casado, tinha uma filha e eu não poderia assumir um risco tão grande. Trabalhar com arte e Metal no Brasil era uma utopia. Em 2008 bateu a coragem que eu precisava (risos). Larguei meu emprego no Rio, me mudei pra Serra Gaúcha e comecei a trabalhar integralmente com o Metal. No começo não foi nada fácil mas acabou funcionando pouco a pouco… Com muito suor e persistência. E continuo trabalhando igual um desgraçado até hoje (risos). Mas não posso reclamar… Tenho minha liberdade e eu realmente amo o que eu faço. Se precisasse eu faria tudo de novo!

Marcelo Vasco Artwork - Slayer

Quais artistas inspiraram ou inspiram você?

Marcelo Vasco: São vários, difícil até citar… Mas tentando ser mais objetivo, os primeiros nomes que me vem a cabeça são H.R. Giger, Dan Seagrave, Hieronymus Bosch, Ed Repka, Michael Whelan, Travis Smith e Kristian Wåhlin.

Você poderia nos contar um pouco sobre o seu processo de criação para a arte de um álbum?

Marcelo Vasco: Inicialmente a banda me passa o título e o conceito por trás do álbum, algumas letras mais marcantes e vagas ideias ou referências do que eles estão buscando. Geralmente gosto de estar bem livre pra criar baseado nessas informações, mas através da minha própria perspectiva artística. Então quando uma banda vem com uma ideia muito concreta em mente, provavelmente eu não sou o artista certo, raramente funciona. O processo todo é feito em ambiente 100% digital, onde misturo manipulação fotográfica com desenho livre. Apesar do digital, eu trabalho de maneira quase orgânica, como se fosse uma pintura a óleo, só que feita através do computador. É um método diferente do que geralmente artistas digitais fazem. Procuro buscar aquela estética de pintura mais rústica, imperfeita, com toda aquela texturização das “pinceladas” e por ai vai…

Entrevista Marcelo Vasco

Você tem acesso as músicas do álbum que você está trabalhando?

Marcelo Vasco: Eu gosto de ter esse acesso quando é possível, claro. Mas nem sempre é. Muitas vezes a capa está sendo criada ao mesmo tempo em que o material está sendo gravado, então torna essa questão inviável. De qualquer maneira não é exatamente um bloqueio. Se é uma banda desconhecida, eu sabendo do que se trata a música, através de uma rápida descrição, já me ajuda a direcionar a minha visão artística em como abordar o visual da capa.

Como você iniciou no mercado internacional?

Marcelo Vasco: Bom, se considerarmos o mercado internacional como a primeira capa que fiz para uma banda de fora do Brasil, eu diria que no começo dos anos 2000, com o álbum “Angelgrinder”, do Lord Belial. Mas sinceramente ainda era muito esporádico, então eu acho que esse mercado só se abriu verdadeiramente pra mim quando eu resolvi largar tudo, em 2008 e me dedicar exclusivamente a indústria do Heavy Metal. Foi ali que eu senti que as coisas começaram a funcionar mais intensamente. Fiz centenas de trabalhos para pequenas e grandes bandas e isso foi fazendo meu nome se tornar reconhecido nesse nicho.

Marcelo Vasco Artwork - Slayer

Inevitável falar do Slayer. Você considera a capa do álbum “Repentless” do Slayer o seu trabalho mais importante?

Marcelo Vasco: Considero, sem dúvidas. Ela é um grande divisor de águas na minha carreira. Foi super importante pra mim, tanto no profissional como no pessoal, como já dizia o Faustão (risos). Digo isso porque o Slayer é a minha banda favorita desde que eu era moleque. Assinar uma capa deles era um sonho desde sempre. E quando digo sonho… é sonho mesmo, daqueles que a gente tem certeza que nunca vai acontecer. Mas como a vida é cheia de surpresas e muitas vezes das boas… Fui surpreendido brutalmente (risos). Quando eu me vi trabalhando pra eles foi uma sensação muito bizarra. Realmente parecia um sonho. Até hoje as vezes parece que a ficha não caiu. E foi através da capa do “Repentless” que meu nome e trabalho ficaram mundialmente conhecidos. Claro que eu já havia feito vários outros trabalhos para bandas maiores, mas nada foi tão expressivo como o Slayer. Graças a essa enorme exposição mais bandas e pessoas conheceram meu trabalho e isso gera procura até hoje, o que é muito legal.

Como a banda chegou até você e se teve algum contato direto com os integrantes durante o processo de criação para o disco?

Marcelo Vasco: Através da Nuclear Blast. Eles que entraram em contato comigo inicialmente, pois eu já havia trabalhado pra eles várias vezes antes disso. E claro, tive contato direto com o Tom Araya e o Kerry King. Quando encontramos a direção certa pra capa, trabalhamos juntos na criação, ajustes e finalização da arte. Preciso confessar que foi estressante, um momento de estafa física e mental muito grande… Eu mal conseguia dormir direito. Sabe quando o olho fica tremendo?! Então (risos)… Era estranho pois eu estava ali fazendo o trabalho da minha vida, em contato com caras que são meus ídolos e eu tinha posters na parede do quarto… E ao mesmo tempo eu estava super estressado, quase mal de saúde. Acho que eu me entreguei de corpo e alma ao trabalho. Eu não podia falhar! Fiquei provavelmente com o psicológico abalado. E isso durou alguns meses. Mas no final valeu muito a pena todo aquele caos (risos).

Entrevista Marcelo Vasco

Você acha que ser brasileiro pode criar alguma vantagem ou desvantagem para trabalhar no mercado internacional?

Marcelo Vasco: Acredito que não. Inclusive muitas vezes as bandas que me procuram nem sabem que eu sou brasileiro (risos). Hoje a coisa tá incrivelmente globalizada e isso deixa o mundo muito “pequeno”. Hoje com a internet e toda tecnologia, se você é profissional e oferece um trabalho de qualidade, a coisa acontece facilmente de qualquer lugar do mundo.

Alguma banda ou artista que você gostaria de trabalhar mas ainda não teve oportunidade?

Marcelo Vasco: Com certeza (risos). O trabalho da minha vida foi o Slayer. Foi o auge pra mim, como imenso fã da banda que sou. Então nada vai estar além disso. Como costumo dizer, zerei a vida. Mas eu adoraria ter a oportunidade de conseguir trabalhar para bandas como o Metallica, Dream Theater, Opeth, Sepultura, Rammstein, Amorphis, Steve Vai, Ozzy, Cradle of Filth, Paradise Lost e muitas outras… Seria do caralho!

Marcelo Vasco Artwork

Depois de tantas conquistas, quais são seus planos futuros?

Marcelo Vasco: Meus planos estão quase todos no presente… Quase sempre é tudo pra ONTEM nesse meu mundo (risos). Inclusive finalizei recentemente a arte para um backdrop da Tour Final do Slayer. To louco pra ver isso gigante estampado no palco dos caras. Mas pensando em planos para o futuro, quero continuar trabalhando com o que eu amo, tentando sempre ser melhor amanhã do que eu fui hoje… Um passinho de cada vez. Tenho vontade de lançar um livro também, um livro de artes, é claro. Mas nele também pretendo contar um pouco da minha história, situações curiosas e engraçadas durante esses anos de trabalho. Infelizmente não existe nada programado ainda. Por enquanto é só um projeto mesmo. Mas em breve eu devo começar a buscar editoras que possam estar interessadas nele. Vamos ver se vinga!

Para finalizarmos, alguma dica para os designers que estão iniciando e gostariam de seguir esse caminho?

Marcelo Vasco: Se dediquem de verdade, estudem, percam horas/anos analisando, brincando, criando, apreciando, praticando. Cada coisa no seu tempo, sem pressa. Não pulem etapas… Façam primeiro por prazer, sem pensar em status ou dinheiro. Façam por amor! A arte só é verdadeira quando o que mais importa é o resultado dela! O resto é consequência disso. Valorize a sua arte! Não existem fórmulas ou atalhos. As coisas definitivamente não caem no nosso colo do nada… Então trabalhe duro! Esteja preparado! Existe uma frase interessante que talvez possa soar um tanto quanto presunçosa e competitiva demais pro meu gosto, mas ainda assim é uma boa frase, pensando pelo lado motivacional… “Trabalhe até que seus ídolos se tornem seus rivais”. Mas eu ainda acrescentaria o seguinte… Se inspire neles, na arte que eles produzem, para que um dia o seu trabalho seja tão expressivo quanto o deles, mas nunca se compare com eles. Nunca! Compare-se com você mesmo, para que como eu disse anteriormente, você seja um pouquinho melhor amanhã do que é hoje. Com o tempo você verá o resultado.

Marcelo Vasco Artwork
Marcelo Vasco Artwork
Marcelo Vasco Artwork - Dee Snider
Marcelo Vasco Artwork - Machine Head
Marcelo Vasco Artwork - Metal Allegiance
Marcelo Vasco Artwork - Venon Inc
Marcelo Vasco Artwork - Testament
Marcelo Vasco Artwork
Marcelo Vasco Artwork - Kreator
Marcelo Vasco Artwork
Marcelo Vasco Artwork
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Visite o site de Marcelo Vasco em www.marcelovasco.com.

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