Entrevista exclusiva com o guitarrista ROBERTINHO DE RECIFE!
September 29, 2020Tivemos o prazer de conversar com um dos maiores representantes brasileiro da guitarra, ROBERTINHO DE RECIFE, que nos atendeu diretamente da sua casa no Rio de Janeiro e contou grandes histórias da sua trajetória e como não poderia faltar, da banda pioneira de metal no Brasil, Metal Mania.
Foto Capa Renato Jacob / Facebook Robertinho De Recife
Robertinho de Recife é guitarrista, compositor, produtor e arranjador dos grandes nomes da música brasileira. Começou sua carreira aos 11 anos e ainda na adolescência se mudou para os Estados Unidos em busca do sonho de viver da guitarra, onde acabou sofrendo um acidente quase fatal. De volta ao Brasil fez muito sucesso compondo hits e com sua banda Yahoo, que explodiu com versões de músicas do Def Leppard e Aerosmith nos anos 80 e 90. Não menos importante na sua carreira foi a grande contribuição ao metal nacional com a banda Metal Mania, trazendo profissionalismo e visibilidade à um estilo totalmente marginalizado na época. Tivemos o prazer de ouvir da própria fonte todas suas grandes histórias desse ícone da música brasileira e vamos compartilhar agora com vocês. Check it out!
Foto Luciana Pires / Facebook Robertinho De Recife
Gema: Olá Robertinho, é uma honra para a gente que cresceu ouvindo o Metal Mania falar com você que foi e é, um dos melhores guitarristas do Brasil!
Robertinho: Obrigado, mas eu não me considero o melhor. Bom saber que vocês me consideram e tem interesse pelo nosso trabalho. Minha história na música começa aos 17 anos quando fui morar EUA e meu “welcome” foi ser preso pelo FBI. Isso foi em 1971. Até minha Fender abriram toda para revistar se tinha droga, isso está no meu documentário que vai sair agora, ‘Robertinho do Mundo’. Foi um recado que a Rita Lee mandou pra mim que dizia só isso.
Eduardo: Nos te assistimos na abertura do Quiet Riot em 85 em Porto Alegre!
Robertinho: É impressionante como é inesquecível esse concerto! É realmente um dos mais importantes da minha carreira, todo mundo lembra, estava a fim de ficar livre para compor e toca, estava na minha melhor forma e o Van Halen me influenciou e inspirou muito, aquela liberdade de criação que eu sempre curti no Hendrix, usar toda a guitarra, sons, ruídos, e eu fui para esse lado metal. Uma vez estava na Warner e vi chegar uns caras com maior visual que me chamaram a atenção, perguntei quem eram e me falaram que eram uns holandeses que estavam fazendo divulgação, mas não liguei uma coisa a outra. Eles não eram ninguém, mas depois quando saiu o disco vi quem eram e pedi um disco deles na hora e ouvi, era muito bom! Depois assisti eles no Brasil e foi realmente impressionante. Parecia que eu estava vendo o Hendrix, mas era o Eddie Van Halen. Fiquei maravilhado porque eu sempre gostei dessas coisas mais pesadas! E aí não teve volta. Vi vários shows bons e pesados, inclusive um do Humble Pie com abertura do Yes.
Comecei a ouvir Deep Purple muito jovem e a tocar as músicas em bailes, eu sempre gostei da distorção, aliás, eu toco guitarra por causa disso!
Foto Facebook Robertinho De Recife
Eduardo: Você foi aos Estados Unidos para entrar em uma banda, certo?
Robertinho: Eu saí de Recife porque eu tinha tocado com um pessoal americano aqui no nordeste com 16 anos, e me chamaram para ir ao Mississippi tocar em uma banda de country e eu fui. Achei que sabia tocar country e falei vamos lá! Saí daqui só com o dinheiro da passagem, sem falar nada de inglês, somente nomes de música, “Help”, “I Need Somebody”… chegando lá fiquei clandestino em uma universidade onde estudava meu amigo, comendo, assistindo aulas e jogando futebol, aí eu me mandei para a audition e chegando lá com a minha fender e meus pedais de distorção e já liguei tudo e os caras eram aquele country com violino e baixão, sem bateria, com aquelas “tábuas de lavar roupa” e a música era super rápida, eu não entendi nada, perguntei até qual tom eles estava tocando, depois da quinta música eu comecei a tocar um frevo pra eles! Ninguém entendeu nada! Eu me demiti e estava sem grana, não tinha nem o dinheiro da passagem de volta. Voltei para a universidade e fiquei jogando bola pra eles. Eu era brasileiro! Até que no meio de um jogo veio um gringo e me deu uma travada, eu parti pra cima dele e aí a direção da escola descobriu que eu não estava matriculado e me expulsaram.
Foto Facebook Robertinho De Recife
Eduardo: Uma experiência e tanto ir para os EUA com 17 anos!
Robertinho: Sim eu era um garoto e estava lá, um dia fui tocar em um parque para um show beneficente para o pessoal que estava lutando no Vietnã e um pouco antes tinha fui participar de um show de televisão, que também ia tocar BB KING, ele era um garoto ainda e antes de eu entrar, quebrou minha corda da guitarra. Eu não tinha dinheiro nem para comer, muito menos pra trocar corda. Quando eu vi, quem me emprestou e trocou minha corda foi o BB KING e ainda me falou “good luck”! Nesse dia ele me convidou para ver um show dele no subúrbio e eu fui, só tinha negros porque nessa época era foda isso no EUA e ele me reconheceu e nos apresentou pra todo mundo e assim todo mundo começou a me tratar bem. Isso foi meu passaporte para frequentar todos os clubes negros do Mississippi, o cara amigo do BB King.
Nesse show beneficente, fui tocar e um cara tipo Hell Angels ficou me olhando a noite toda e no final me chamou para fazer uma jam na casa dele, perguntei se tinha comida e bebida, então eu fui. Tocamos a madrugada toda e uma hora ele parou e disse: “You got the job!”. Tinha entrado para a banda dele que estava procurando um guitarrista. Eu até conhecia as músicas que tocavam no Brasil e ele ficou maravilhado. Mas precisava viajar para Memphis, no Tennesse, só que ia ter uma festa para mim no Mississippi, então pedi para ir depois e ele disse que não teria problema porque o cunhado dele iria um dia depois de carro. Foi aí que aconteceu meu acidente, quando a gente estava na última cidade do Mississippi veio um caminhão e bateu no nosso carro e eu entrei em coma! Fui parar nas primeiras páginas dos jornais: “Índio brasileiro sofre acidente!” Passei um tempão no hospital e teve uma doação enorme para mim. Eu não tinha dinheiro. Fiquei com paralisia facial, nem conseguia falar. Naquela época não tinha como manter contato com minha família, não tinha celular, era tudo por rádio amador. Não tinha como me mandar dinheiro e eu tinha mentido para o meu pai dizendo que iria estudar nos Estados Unidos, forjei todos os papéis e ele acreditou.
Eduardo: Quanto tempo ficou lá?
Robertinho: Fiquei dois anos, meu visto era para 6 meses, mas esse acidente também me ajudou a ficar mais tempo!
Muita gente me ajudou lá! Recusei uma cirurgia porque tinha que ir tocar na banda, quando cheguei lá, os caras não acreditaram que eu tinha saído do hospital para tocar e eu entrei na banda, fiz turnê e foi demais!
Foto Facebook Robertinho De Recife
Gema: Você tocou com muita gente boa nâo? Stewart Copeland, Andy Summers e muito mais.
Robertinho: Eu estava no Rio quando o Police ia tocar lá. Na época eles já não estavam com o Sting e me chamaram para fazer uma jam, só que a coisa cresceu de um jeito, a mídia fez a coisa se tornar enorme e os caras não estavam entendendo nada, mas tocamos juntos e foi muito bom!
Eduardo: O que aconteceu na tua carreira quando você fez o Metal Mania? Você esperava esse retorno todo dos fãs?
Robertinho: Foi uma batalha, antes eu estava fazendo músicas infantis, na verdade por acidente por causa da música do ‘Elefante’ que as crianças gostavam, mas caiu no gosto infantil, aí vieram alguma músicas infantis. Fiz músicas para todas as apresentadoras infantis e era uma coisa que me dava um dinheiro absurdo, mas eu gostava da música pesada. A gravadora não acreditava na minha música pesada, não achavam que vendia. Então a condição para eu gravar a música “Chocolate” foi eles me gravarem o Metal Mania. Eu estava com dinheiro então eu comprei coisa boa, uns amplificadores bons, um ônibus de tour e fomos tocar, mas o gosto na época era tipo discoteca, ninguém estava pronto para ouvir aquilo. Ninguém contratava a gente, então íamos mais para o interior. Era uma batalha sem apoio da gravadora que me queria fazendo música infantil. A Metal Mania foi uma devastação na minha vida, até pobre fiquei, entrei no metal e me dei muito mal.
Abrimos para Deep Purple, Quiet Riot, até nos EUA a gente tocou e todo mundo curtia, éramos pesados, a banda era boa, só músicos bons.
Foto Divulgação Metal Mania / Facebook Robertinho De Recife
Gegê: Como foi tocar com o Manowar?
Robertinho: O Muniz gravava umas K7 no estúdio e mostrou para eles o som do Metal Mania e os caras curtiram e quando vieram para o ‘Monster of Rock’ me chamaram para tocar no palco, foi uma honra e foi legal demais.
Gegê: E a sua historia com o Phil Collen (Def Leppard) foi daí que o Yahoo resolveu gravar “Love Bites”?
Robertinho: Encontramos eles com a música já gravada e eu fui lá mostrar para eles a versão, eles adoraram, o Phil Collen me perguntou sobre o solo e chegou até a dizer que o meu era melhor que o dele. Foi um sucesso! O Yahoo era uma boa banda com músicos muito bons.
Foto Facebook Robertinho De Recife & Manowar
Gema: E a história da quebra dos discos da Metal Mania pelo Quiet Riot como foi?
Robertinho: Isso foi um acúmulo de coisas que aconteceram naquela turnê. Abrimos a primeira cidade e estava tudo bem, todo mundo amigo e aquela coisa de ajuda mútua, só que o nosso sistema de PA e nosso equipamento era muito melhor do que os dos caras, e no primeiro show a gente fez tremer o lugar! Quando eles entraram estavam com o som bem magrinho. Aquilo já afetou a relação para o segundo show. Aí cortaram nosso PA, eu falei tudo bem… eu tinha um no ônibus pra fazer show em drive in, estava preparado pra tocar em qualquer lugar. Quando chegamos no show no Rio de Janeiro, já estava um clima horrível e tinham alugado um ônibus para o Quiet Riot que não era legal. Os caras chegaram para o tour manager e falaram que queriam ir no nosso ônibus e a gente ir no outro, só que o ônibus era meu! Até convidei eles para virem e dividir o ônibus, assim a gente ia tomando cerveja e já acabava com aquilo, mas eles queriam trocar, tirar a gente do meu ônibus e isso eu não permiti. Os caras ficaram putos e começaram a jogar nossos discos, que a gente tinha dado pra eles, pela janela. Aí eu falei que não tocaria mais com eles. Aproveitei que já estava no Rio onde moro e fui pra casa.
Foto Divulgação Metal Mania / Facebook Robertinho De Recife
Gegê: Só para terminar, como foi aquele trabalho com o Zé Ramalho, o “Ás De Espadas”?
Robertinho: O Zé Ramalho um dia me ligou e falou que queria fazer um disco em dupla, ‘Zé Ramalho e Robertinho de Recife’, que queria gravar um disco de metal! Eu fiquei “É mesmo?” Ele queria fazer umas versões, eu já tinha feito uma versão do Motorhead, eu adoro o Lemmy! E aí eu falei pra fazer o “Ás De Espadas” e também o “Mr. Crowley” do Ozzy que tinha tudo a ver, mas ele não quis mexer com isso, magia e tal, aí sugeriu mudar para Sr. Ozzy que ficaria tudo certo! Eu fiz uma levada meio Raul Seixas, o “Ás de Espadas” é um baião! O Lemmy ia gostar de sentar em um bar na beira da praia e tomar uma Pitú, ia até abandonar o Jack Daniels! Foi assim, uma homenagem!
Eduardo: Robertinho, queria te agradecer novamente e dizer que foi uma honra falar com você!
Robertinho: Eu ficaria aqui mais umas 10 horas falando, só faltou uma cervejinha. Foi muito prazeroso, muito obrigado! Eu fico feliz de saber que depois de tanto tempo as pessoas ainda relembram de coisas que foram relevantes pra mim, mas não sabia que também foi pra tanta gente. É um carinho muito grande que estou recebendo, muito obrigado mesmo!
Assista a entrevista na íntegra abaixo:
Confira alguns Vídeos:
Discografia
‘Back For More’
Metal Mania
2014
‘Rapsódia Rock’
Robertinho De Recife
1990
‘Oração da Vitória’
Yahoo
1989
‘Yahoo’
Yahoo
1988
‘Metal Mania‘
Metal Mania
1984
‘Robertinho do Mundo’
Robertinho De Recife
1983
‘Robertinho de Recife e Emilinha”
Robertinho De Recife e Emilinha
1982
‘Satisfação’
Robertinho De Recife
1981
‘Loucos Swings Tropicais’
Robertinho De Recife
1979
‘Robertinho No Passo”
Robertinho De Recife
1978
‘Jardim de Infância’
Robertinho De Recife
1977
Geraldo “Gegê” Andrade blogueiro e vlogueiro a mais de 15 anos. Iniciou sua paixão pelo rock n roll, nos anos 80, quando pela primeira vez, ouviu um álbum da banda KISS. Tem um currículo com mais de 500 shows, de bandas nacionais e internacionais. Um especialista em entrevistas, já tendo entrevistado vários músicos nacionais e internacionais.
Gema
Gema. 46 anos dos quais 32 foram consumindo e tocando Rock n Roll.
Baterista, de bandas da cena de são Paulo e agora fazendo rock n roll na Espanha com a banda THE ROCK MEMORY.
Edu Rod
Designer e músico apaixonado por arte e rock n’roll. Gaúcho de Porto Alegre, já morou em São Paulo, Nova York e atualmente reside em Madri, na Espanha. Em seu currículo como músico tem passagem como baixista das bandas Rosa Tattooada (Porto Alegre), Jungle Junkies (NY) e Monodrive (SP).
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