REGIS TADEU fala em entrevista exclusiva a Revista Freak!

REGIS TADEU fala em entrevista exclusiva a Revista Freak!

August 6, 2020 0 By Edu Rod

Conversamos com o jornalista, crítico musical, apresentador, produtor e baterista, REGIS TADEU, que nos atendeu diretamente de sua casa em São Paulo, via Skype, e contou grandes histórias da sua trajetória no meio musical, como ele mesmo diz: “sem exceções, pudores e autocensura”.

Para encarar REGIS TADEU você deve estar preparado! Com ele você não vai encontrar “papinho” para agradar fãs idiotas. É “acostume-se ou caia fora!”. Dentista por formação, Regis migrou profissionalmente para o mundo da música como jornalista e diretor de redação das revistas especializadas Cover Guitarra, Cover BaixoBateraTeclado & Áudio e Mosh, adquirindo conhecimento e experiência que lhe abriram as portas para se tornar apresentador de programas de rádio, televisão, produtor e um dos maiores críticos musicais da atualidade no Brasil, com mais de 295.000 seguidores no seu canal do YouTube. Com seu tom direto e sem querer agradar ninguém, Regis nos contou grandes histórias recheadas de opiniões e ao contrário do que muitos podem pensar, com muito bom humor e simpatia. Check it out!

Foto Facebook Oficial Regis Tadeu

Eduardo: Primeiramente gostaríamos de agradecer pela sua participação e para começar queria perguntar em que momento da sua vida te despertou o interesse pelo rock?

Regis Tadeu: Acho que a mais antiga conexão que eu tenho com o rock n’roll era quando eu tinha uns 4 ou 5 anos de idade. Eu ouvia o “O Calhambeque” de Roberto Carlos na rádio e ficava meio em estado catatônico, na época não se falava muito em autismo, mas minha mãe ficava preocupada com isso. Acabava a música e eu voltava ao normal!

Gema: Eu curto assistir os seus vídeos e concordo quando você fala sobre o “emburrecimento” que está acontecendo no Brasil através do funk e outras coisas que dominam o país, você poderia falar um pouco sobre isso?

Regis Tadeu: O emburrecimento na verdade vai muito além do musical! Acho que a música popularesca brasileira é apenas a ponta de um iceberg de um emburrecimento coletivo e generalizado. Nós temos hoje ao menos duas gerações de jovens que sabem ler, mas não sabem interpretar o que estão lendo e isso é preocupante. É nesse cenário que as pessoas que tem um conhecimento maquiavélico, pintam e bordam. É meio chato falar isso mas tem que ser dito, você vê hoje em dia uma imprensa cultural no Brasil completamente cúmplice de assessoria de imprensa, com raras exceções. A capa dos principais portais de notícias com frequência têm uma notícia da Anitta, que quase nunca é musical, fala sobre bronzeamento ou namorado da vez… então esse emburrecimento é preocupante. Se tratasse apenas de gosto musical seria ok, só teríamos a lamentar, mas é muito maior do que isso e hoje o Brasil é considerado uma piada mundial por causa disso!

Eduardo: E você que trabalhou muito em revista, acredita que a leitura está sendo extinta?

Regis Tadeu: Eu sempre recomendo no final das entrevistas para os pais estimularem os filhos a lerem, porque a pessoa que pega gosto pela leitura tem a grande possibilidade de se tornar um ser humano diferenciado. Para minha formação que venho das revistas, é uma calamidade. A minha preocupação básica é fornecer conteúdo e tentar fazer com que as pessoas pensem. Não precisa concordar comigo, você parou para pensar, o meu trabalho está feito.

entrevista regis tadeu

Foto Facebook Oficial Regis Tadeu

Gegê: As escolas de música também são um bom caminho, você concorda?

Regis Tadeu: Eu sou um grande defensor do ensino de música obrigatório na grade de matéria das escolas, mas não como na minha época que você ficava tocando aquela flauta doce demoníaca. Se não me engano já tem até uma lei aprovada, mas lei no Brasil é um negócio que não pega.

Eduardo: A gente chegou a ver o rock ser mais popular, estar em alta nos anos 80 e 90, você acha que isso pode acontecer novamente?

Regis Tadeu: O que aconteceu foi que nos anos 80 as gravadoras injetaram muito dinheiro em rádios e canais de TV e depois nos anos 90 na MTV, dando uma projeção ao rock. Mas o rock no Brasil nunca foi Mainstream!

Gema: Mas hoje em dia o rock está muito em baixa!

Regis Tadeu: Um dos programas que eu tenho hoje em dia na rádio USP é o ‘Rock Brazuca’ aonde eu toco tudo de banda nacional, toco de Celly Campello a Krisium. Tem muita banda legal, o problema é que está tudo no underground. O rock continua, nunca vai morrer! Aliás, estão tentando matar o rock desde que Elvis apareceu na televisão. O cenário é muito grande e muito bom, só que não vai nunca mais chegar no nível de projeção que já chegou, não tem dinheiro sendo injetado. Tudo depende de dinheiro! Nem o Metallica surgiu do nada. Se não tiver dinheiro, esquece!

Eduardo: Atualmente existem muitas bandas covers, você acredita que isso possa atrapalhar um pouco as bandas autorais?

Regis Tadeu: Acho que atrapalha muito! Nos anos 70, 80 e 90 você saía de casa para assistir banda autoral. Com a queda da MTV, muitas bandas nacionais e internacionais perderam espaço e 90% desapareceram junto. O público perdeu a referência e começou a dar valor às bandas covers. Não estou dizendo que banda cover é ruim, mas pra mim, só é divertido pra quem está tocando! O público hoje quer ir em um show com a certeza que a música é boa e não para descobrir uma banda nova. Os donos dos bares não são culpados porque eles precisam ganhar dinheiro e na noite de banda autoral, o público não comparece!

entrevista regis tadeu

Foto Facebook Oficial Regis Tadeu

Gema: Eu assisti um vídeo seu dos melhores solos de rock, ficou demais!

Regis Tadeu: Para mim foram meio óbvios. Eu fiz com 15 para não fazer um vídeo muito longo, podia citar 50.

Gema: O do David Gilmour é uma obra prima.

Regis Tadeu: A pessoa que ouve aquele solo sem chorar, pode assinar o atestado de vegetal ambulante. Já era!

GG: E a tua famosa coleção de vinil, ainda está crescendo?

Regis Tadeu: Agora deu uma parada né? Porque eu não compro pela internet. Acho que grande parte do prazer de comprar um disco é você estar no lugar certo, na hora certa. Encomendar perde a graça. Isso é coisa de infância… eu pegava o dinheiro do lanche da escola, juntava e ia atrás de um disco, pra mim isso tem muito valor. Ouvir um disco era um ritual! Você chamava os amigos em casa para abrir o disco juntos, fazia uma audição. Quando comprava um vinil importado, todo mundo cheirava porque tinha um cheiro diferente. Quem é mais velho sabe o que estou falando. Todo mundo escutava o álbum ao mesmo tempo, comentava, isso se perdeu completamente. 

entrevista regis tadeu

Foto Facebook Oficial Regis Tadeu

Eduardo: Eu vi uma matéria que você foi no show de uma banda que já havia falado no seu programa que não gostava, o Manowar, como foi encarar essa?

Regis Tadeu: O mais legal é que eu fui pra provar que realmente os fãs do Manowar eram burros e os caras não perceberam que estavam provando exatamente a minha tese e acabou virando aquele “meme” clássico. A coisa independe de gostar do Manowar, eu fui provar lá que o cara que gosta de Heavy Metal se acha superior ao gosto dos outros e o grande problema é a idolatria cega.  O pior é que o show foi tão ruim que quando acabou, os próprios fãs queimaram as camisetas da banda no estacionamento comprovando ainda mais a burrice.

Gema: Hoje em dia existem muitas bandas que os caras tocam tanto que esquecem de fazer música, parece uma aula de instrumento, o que você acha dessas bandas?

Regis Tadeu: Eu fiz um vídeo uma vez, que pra minha alegria despertou o ódio dos fãs do Dream Theater quando eu falei que as músicas não tinham começo, meio e fim, que eram colagens de vários temas diferentes e depois costuradas formando uma música e as pessoas ficaram revoltadas com isso. Há uns anos atrás o guitarrista da banda John Petrucci, admitiu isso dizendo que cada um trazia uma ideia e eles juntavam tudo depois.

Eduardo: E dos shows que você viu, algum que você mais gostou ou alguma banda que você não esperava muito e te surpreendeu?

Regis Tadeu: Eu ia até em show ruim porque eu escrevia uma coluna pro Yahoo chamado “Show é Fria” porque pra eu poder falar bem ou mal, preciso ter visto pelo menos uma vez. Ma pra responder a pergunta, o show do King Crimson em São Paulo foi uma experiência inacreditável, meu cérebro escorreu pelas orelhas. Eu chorei em pelo menos umas cinco ou seis músicas. 

Gegê: E banda nacional?

Regis Tadeu: Sempre que eu posso assisto shows do Baranga. É a minha banda de rock n’roll favorita e sempre que posso eu vou. Acho sensacional, divertidíssimo e recomendo!

entrevista regis tadeu

Foto Facebook Oficial Regis Tadeu

Gema: O seu vídeo sobre o Woodstock foi muito bom! Não teve muita paz e amor, o bicho pegou naquele lugar!

Regis Tadeu: Isso rola quando as pessoas romantizam fatos que elas não presenciaram, é muito comum. Conheço muitos torcedores do Santos que falam que foram no jogo que o Rodolfo Rodriguez fez aquelas 4 defesas, se todos tivessem ido, teria 3 milhões de pessoas lá! No caso do Woodstock não foi aquele paraíso musical que falam, ouvimos relatos de pessoas sérias que estiveram lá que foi um caos, com atrasos, sem banheiro, um cheiro de urina e merda insuportável, sem água, foi uma loucura. A minha intenção foi mostrar que precisamos ter um pouco de discernimento para saber que nem sempre a história dos vencedores é a real.

Eduardo: E você está tocando bateria?

Regis Tadeu: Agora estou parado. A banda que eu tinha nos anos 80, o Muzak, voltou. Gravamos um disco e na hora de fazer a mixagem estourou a pandemia e tivemos que interromper. Assim que as coisas voltarem ao normal, a gente lança.

GG: E o crítico Regis Tadeu o que acha do baterista Regis Tadeu?

Regis Tadeu: É um cara que faz barulho e procura tocar aquilo que a música pede, sem inventar. Fica na sua Regis Tadeu!

entrevista regis tadeu

Foto Facebook Oficial Regis Tadeu

Eduardo: Eu vi você em um documentário do Rush. Essa proximidade com seus ídolos tem sido legal? Algum já te decepcionou?

Regis Tadeu: Em 99,2% foi muito legal. Eu nunca fui fã no sentido estrito da palavra. Eu sei reconhecer as coisas boas e ruins do artista sem fanatismo. Eu entrevistei muita gente que eu gostava bastante e na grande maioria das vezes foi muito legal. Teve um ou outro mala? Teve! O cara do Type O Negative, o Djavan… o Lulu Santos que é um cara que as pessoas acham chato foi uma das melhores entrevistas que eu fiz. Muitas vezes o cara passa uma imagem de arrogante porque não aguenta mais responder as mesmas perguntas e aí a culpa é de quem está entrevistando.

Gema: O Lulu Santos era um bom guitarrista tinha uma banda boa nas antigas!

Regis Tadeu: Ele passa essa imagem mas é um cara legal, você pode fazer uma ótima entrevistas com esses caras se você mostrar que sabe do que está falando. Tem um caso desses com o Ritchie Blackmore, eu e o Vitão Bonesso fomos entrevistá-lo às 2 da manhã e tinha tudo pra ser ruim, então na primeira pergunta eu falei sobre os amplificadores que ele costumava usar e tinha mudado naquele show, o cara se ligou que a entrevista seria diferenciada, que pelo menos sabiam do que estavam falando e a entrevista que estava programada para durar 20 minutos, durou uma hora e quarenta. 

Eduardo: Faltou algum show que você gostaria de ter visto e ainda não teve oportunidade?

Regis: Quando o Neil Young veio no Rock in Rio eu estava em Los Angeles e não pude ver. Adoraria ter visto um show do Tom Petty and the Heartbreakers, bandas de southern rock tipo The Outlaws, Molly Hatchet, mas de resto vi tudo. Tenho algumas lacunas de pessoas que eu adoraria ter entrevistado e nunca consegui como Keith Richards, John Lydon, Pete Townshend… por enquanto não rolou. 

Eduardo: Chegou a entrevistar o Slash?

Regis Tadeu: O Slash foi meu primeiro furo de reportagem. Quando ele veio tocar com o Snakepit, na coletiva todos perguntavam sobre o Guns, Axl, e eu por trabalhar em uma revista de guitarra, sobre produção e gravação, na saída eu encontrei com ele e me agradeceu por perguntar sobre o trabalho dele e não sobre o Guns. Disse que teria muito mais coisas para perguntar e ele me falou para voltar no dia seguinte e perguntar na recepção sobre o Saul (seu nome verdadeiro) que me daria uma entrevista exclusiva. Eu estava na Cover Guitarra havia uns 6 meses, no dia seguinte ele me deu a entrevista e foi espetacular. Foi nessa entrevista que ele contou que a mãe dele era figurinista do David Bowie, ninguém sabia.

Assista a entrevista na íntegra abaixo:

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marcelo gema

Gema
46 anos dos quais 32 foram consumindo e tocando Rock n Roll.
Baterista, de bandas da cena de são Paulo e agora fazendo rock n’ roll na Espanha com a banda THE ROCK MEMORY.

geraldo andrade

Geraldo
Geraldo “Gegê” Andrade blogueiro e vlogueiro a mais de 15 anos. Iniciou sua paixão pelo rock n roll, nos anos 80, quando pela primeira vez, ouviu um álbum da banda KISS. Tem um currículo com mais de 500 shows, de bandas nacionais e internacionais. Um especialista em entrevistas, já tendo entrevistado vários músicos nacionais e internacionais. 

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