Guitarrista do Angra, MARCELO BARBOSA, fala em entrevista exclusiva a Revista Freak!
July 29, 2020 0 By Geraldo AndradeConversamos com o guitarrista do Angra, MARCELO BARBOSA, que nos atendeu diretamente de sua casa em Brasília, via Skype, e nos contou sobre sua trajetória para se tornar um dos maiores e mais conceituados guitarristas do Brasil.
MARCELO BARBOSA é sem dúvida um dos maiores guitarristas da cena nacional e internacional atualmente. Professor e proprietário da conceituada escola de música GTR, possui em seu currículo passagem pelas bandas KHALLICE e ALMAH, antes de assumir a difícil tarefa de substituir o guitarrista atual do Megadeth, Kiko Loureiro, em uma das maiores bandas de Heavy Metal com reconhecimento internacional já existentes no Brasil, o ANGRA. Aproveitamos a quarentena para conversar com Marcelo e ouvir direto da fonte todas as suas histórias incluindo a indicação direta de Ron “Bumblefoot” para ser guitarrista do Guns N’Roses. Check it out!
Foto: Divulgação Marcelo Barbosa
Eduardo: Primeiramente obrigado pela sua participação e queria começar dizendo que você toca muito! Eu sei que você começou bem novo, o que te despertou esse interesse pela guitarra?
Marcelo Barbosa: Eu digo que Brasília tem esse clima do rock, muitas bandas saíram daqui e havia um incentivo até mesmo nas escolas. Eu comecei ouvindo rock daqui e quando aconteceu o Rock in Rio, tive o primeiro contato com as bandas mais pesadas, na verdade muita gente no Brasil teve o primeiro contato ali. Depois disso resolvi tocar mesmo e comecei a conhecer melhor as bandas, como o rock setentista que eu gosto muito, Deep Purple, Led Zeppelin, e não parei mais.
Gegê: Você formou a sua primeira banda em 94, a KHALLICE né?
Marcelo Barbosa: Tive outras bandas de colégio tocando covers e tal, mas banda autoral essa foi a primeira mesmo. Em 95 gravamos uma demo com o Mario Linhares no vocal, do Dark Avanger, e perto de 2000 gravamos o álbum inteiro com Alirio Neto que hoje está no Shaman.
Eduardo: E com essa banda vocês chegaram a fazer a abertura do Dream Theater, né?
Marcelo Barbosa: Sim, aqui em Brasília ficamos bem conhecidos, abrimos pro Dream Theater, Iron Maiden, Symphony X também, chegamos a viajar por alguns estados do Brasil fazendo turnê, mas era aquela coisa na raça mesmo, aquele começo de banda, acabamos gastando mais do que ganhando.
Foto Crédito Thiago Santos / Website Oficial Marcelo Barbosa
Gema: Quanto tempo demorou para você desenvolver essa técnica toda e virar esse monstro?
Marcelo Barbosa: Eu tento praticar ao menos duas horas todos os dias. Eu decidi ser músico com 17 anos e até os 21 tocava o dia todo, nesses anos eu comecei a evoluir muito, tocar músicas difíceis, é um ciclo, você precisa muita imersão para dar esse salto e eu fiz tudo na hora certa porque nessa idade você tem muito tempo para praticar, essa idade é para você investir no que você quer!! Essa geração de agora não tem muita paciência porque eles têm muita facilidade para tudo.
Eduardo: Você tem a sua escola, como você vê essa geração?
Marcelo Barbosa: Minha escola tem 25 anos, o perfil do público mudou muito, porque antigamente uma grande parte era de guitarristas que queriam ser virtuosos e se dedicavam para isso, já hoje em dia a coisa tem muito mais a ver com o lifestyle e experiência, as pessoas acham legal fazer um som e aquilo é tipo uma natação, como um afazer da semana. Os que tem mais disciplina, quando atingem um certo nível, partem para a internet, compram um curso on-line e desencanam das aulas, o que tem o lado bom e o lado ruim porque acabam pulando etapas e as vezes ficando sem base.
Foto: Divulgação Marcelo Barbosa
Gegê: E o ALMAH? Foi ali que você despontou né? Como rolou tua entrada na banda com o Edu Falaschi?
Marcelo Barbosa: Na época, o Angra estava meio parado devido a alguns problemas internos. O Edu Falaschi já havia gravado um álbum solo há pouco tempo com esse nome e alguns integrantes resolveram sair juntos em turnê. Para facilitar, colocaram o mesmo nome na banda. Chamaram o Eduardo Ardanuy para a guitarra, fizeram 4 shows e o Edu por causa de conflito de agenda com o Dr. Sin, teve que sair e me indicou, aí fizemos alguns shows e começamos a preparar repertório para gravar um disco com a banda. Durante esse período houve um conflito de interesses que acabou gerando uma troca de integrantes e gravamos dois álbuns com a nova formação que incluía Marcelo Moreira e Paulo Schroeber.
Gegê: Eu sou de Caxias do Sul e o Paulo Schroeber era daqui, você poderia falar um pouco sobre ele?
Marcelo Barbosa: Era um cara sensacional que nos deixou muito jovem. Tinha essa doença cruel no coração, mas vivia muito bem com ela e a impressão que eu tinha é que cada dia que ele acordava, ficava grato por estar mais um dia aqui. Ele era leve e achava que estava no lucro porque seus primos foram muito cedo e ele ainda estava vivo. Se dedicava 100 por cento para tocar e acho que como ele sabia que iria morrer, ele quis fazer somente o que gostava. Um cara fantástico, como ser humano e músico!
Foto Divulgação Almah / Facebook Oficial Almah
Eduardo: Depois do ALMAH veio o ANGRA, entrando no lugar do Kiko Loureiro que sempre foi uma referência. Chegou a ser um desafio pra você? Como foi essa entrada e o convite?
Marcelo Barbosa: Sem dúvida foi um desafio em vários níveis, tanto no quesito técnico quanto no artístico. O Kiko é um grande ícone da guitarra brasileira e um dos fundadores do Angra. Eu nunca cheguei a sonhar com isso porque eu não imaginava o Angra sem o Kiko ou o Rafael. Eu sei que no Brasil e no mundo vários guitarristas estariam aptos para essa posição e eu fico muito agradecido de ter sido escolhido e ter essa oportunidade.
Gegê: Seu primeiro show com o ANGRA foi no ‘Rock in Rio’ com o Dee Snider né?
Marcelo Barbosa: Sim e foi engraçado porque uma semana antes eu estava em Atlanta tocando com o ALMAH e o ANGRA também estava no mesmo festival. Já tínhamos conversado e haviam me dito que a estreia seria no Rock in Rio, que aconteceria em poucos dias, mas não tinha uma confirmação ainda. Quando eu estava voltando para o Brasil, precisava saber se voltava para Brasília ou para São Paulo para tocar no Rock in Rio e foi aí que decidi ligar e perguntar e eles me responderam que eu estava dentro e que ensaiaríamos no Rio dois dias antes do show. Tudo feito em silêncio para os fãs não descobrirem!
Foto Crédito Thiago Santos / Website Oficial Marcelo Barbosa
Gema: E suas influências de moleque quis foram?
Marcelo: Quando eu era menor eu ouvia muito Rush, Yes, eu gostava da complexidade das músicas, muito Deep Purple, Led Zeppelin, Pink Floyd e depois aos poucos eu conheci algumas coisas mais pesadas como Iron Maiden e depois o Dream Theater, e ali juntou os dois mundos. Foi um caminho bem tortuoso eu não comecei direto no Heavy Metal. Ouvia também Jazz e Blues, mas mais como pesquisa de músico mesmo.
Eduardo: Eu vi um vídeo de você tocando com o Steve Vai, como foi isso? Tem algum outro grande guitarrista que você tenha tocado ou gostaria de tocar e ainda não teve oportunidade?
Marcelo Barbosa: Uma vez conversando com um amigo sobre guitarristas eu falei que pra mim os dois caras que revolucionaram o instrumento foram Jimmy Hendrix e Van Halen e ele falou: “Mas o Steve Vai quase deu uma rasteira no Eddie!” (risos) e realmente foi isso, quando o Steve Vai surgiu foi impressionante. Como eu tenho uma escola de música, um amigo meu que estava pra fazer uma turnê de workshop do Steve Vai no Brasil me perguntou se eu poderia fazer o de Brasília, eu topei na hora. Ele faz um lance durante seu workshop que quem quiser subir lá, vai e toca com ele. Na verdade eu não queria tocar porque eu era da produção do evento também e tinha uma série de coisas para cuidar e não estava com a cabeça focada em tocar, principalmente com um ídolo como Steve Vai. Mas esse meu amigo que havia trazido o workshop me pressionou e eu fui, acabou sendo um momento muito especial. Ele foi muito generoso comigo nas palavras no final do evento e ficou muito marcado isso para mim. Ele é uma pessoa muito diferenciada e especial mesmo! Eu tive o prazer de tocar com alguns guitarristas que admiro muito e sou muito fã de John Petrucci, seria muito legal fazer uma jam com ele.
Foto Crédito Thiago Santos / Website Oficial Marcelo Barbosa
Eduardo: Como foi para você gravar o disco ‘Ømni’ com o Angra, o primeiro sem o Kiko e que foi tão bem recebido?
Marcelo Barbosa: Foi muito bom, mas havia uma tensão obviamente. O Kiko sempre participou muito das composições do Angra e as pessoas estavam meio céticas de um disco sem ele. Havia uma cobrança interna e houve uma dedicação muito grande. Sabíamos que tínhamos que fazer um disco muito bom para agradar os fãs, e a receptividade foi boa, melhor que esperávamos, premiado e muito elogiado. Ouço de muitas pessoas que colocaram o disco na lista de preferidos do Angra.
Gema: E o seu processo interno na hora de gravar? Você sentiu uma pressão ou foi tranquilo?
Marcelo Barbosa: Eu acho que foi tranquilo de certa forma porque aconteceu quando eu já estava com 40 anos. Acredito que se tivesse acontecido mais novo talvez não fosse assim. Já tenho uma carreira, meu estilo de tocar e levei tudo que eu sabia para o Angra. Na verdade fui escolhido por isso. Eles buscavam alguém que pudesse executar as partes do Kiko, mas de preferência com uma carreira construída, que as pessoas já tivessem um certo conhecimento, sem precisar explicar muito sobre e acima de tudo com uma identidade própria. Tentei ao máximo tirar o peso já que sempre fui muito bem recebido pelos fãs do Angra e estou construindo minha história com a banda também. Acredito que ano que vem vai ser muito bom porque o Angra completará 30 anos e temos muitos planos!
Foto: Divulgação Marcelo Barbosa
Gegê: E antes de encerrarmos, você pode contar a história de ser indicado para substituir o guitarrista Ron “Bumblefoot” no Guns N’ Roses?
Marcelo Barbosa: Quando eles vieram tocar aqui em Brasília, a banda que eu estava na época, o Khallice, abriu o show para eles. Como eu já havia tido contato com o Bumblefoot pelo MySpace, marcamos de nos encontrar na passagem de som. Acabamos desenvolvendo uma amizade e mantendo contato. Em outra vinda do Guns ao Brasil, nos encontramos e no final do show ele estava muito aborrecido com os atrasos do Axl e indignado me disse que iria sair da banda e que me indicaria para substituí-lo. Comecei a falar com a manager do Guns, enviei o material solicitado e estava indo tudo super bem. Teria uma temporada de shows em Las Vegas e eu já começaria ali. Estava tudo certo! já tinham pedido minha presença lá nos EUA para alguns ensaios, mas de repente a coisa esfriou, as notícias pararam de chegar e as datas do show em Las Vegas desapareceram do site. Liguei para o Bumblefoot e ele me disse que também não estava entendendo nada e que a produção da banda havia parado de falar com ele. Algum tempo depois veio a notícia da reunião da banda com o Slash e Duff. Eu até costumo brincar que se for para perder a vaga para alguém, que seja para o Slash!!!
Foto: Divulgação Marcelo Barbosa
Assista a entrevista na íntegra abaixo:
Discografia
‘ØMN’
Angra
2018
‘PE.V.O’
Almah
2016
‘Unfold’
Almah
2013
‘Motion’
Almah
2011
‘Fragile Equality ‘
Almah
2008
‘Inside Your Head
Khallice
2008
‘The Journey ‘
Khallice
2006
Visite o site marcelobarbosa.com.br
Geraldo “Gegê” Andrade blogueiro e vlogueiro a mais de 15 anos. Iniciou sua paixão pelo rock n roll, nos anos 80, quando pela primeira vez, ouviu um álbum da banda KISS. Tem um currículo com mais de 500 shows, de bandas nacionais e internacionais. Um especialista em entrevistas, já tendo entrevistado vários músicos nacionais e internacionais.
Gema
46 anos dos quais 32 foram consumindo e tocando Rock n Roll.
Baterista, de bandas da cena de são Paulo e agora fazendo rock n’ roll na Espanha com a banda THE ROCK MEMORY.
Edu Rod
Designer e músico apaixonado por arte e rock n’roll. Gaúcho de Porto Alegre, já morou em São Paulo, Nova York e atualmente reside em Madri, na Espanha. Em seu currículo como músico tem passagem como baixista das bandas Rosa Tattooada (Porto Alegre), Jungle Junkies (NY) e Monodrive (SP).
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