Entrevista exclusiva com o grande baixista do Shaman, LUIS MARIUTTI!
February 28, 2021 0 By Geraldo AndradeTivemos o prazer de conversar com o grande baixista do Shaman e Sinistra, LUIS MARIUTTI, que nos atendeu via skype, diretamente de sua casa em São Paulo e contou com muita simpatia e bom humor, sobre sua carreira, o momento atual do Shaman, o lançamento do seu livro e muito mais.
Luis Mariutti é com certeza um dos baixistas brasileiros mais conhecidos e reconhecidos mundialmente, estando na lista dos melhores baixistas do mundo pela revista japonesa Burrn! e eleito o melhor baixista do Brasil por doze anos consecutivos. Com passagem pelas maiores bandas do estilo power metal nacional como Angra, Andre Matos e Shaman, Luis possui uma extensa bagagem de shows que incluem os maiores festivais de rock, nacionais e internacionais, como Wacken Open Air, Loud Park, Gods of Metal, Eurockennes, Dynamo, Viña Rock, Monsters of Rock, Live’n’Louder, marcando o Brasil como um dos grandes nomes do estilo no mundo. Fomos ouvir da própria fonte suas grandes histórias e tudo que está rolando atualmente com essa grande personalidade do baixo e do rock nacional. Check it out!
Foto Fonte Facebook oficial Luis Mariutti
Eduardo: A gente queria iniciar agradecendo e dizer que é um prazer falar com você.
Luis Mariutti: O prazer é meu, eu que agradeço!
Gegê: Ontem teve a live sobre o novo disco do Shaman, como estão os preparativos?
Luis Mariutti: As ideias já estão prontas, mas como não conseguimos fazer esse ano como estamos acostumados, uma pré produção em algum lugar ou o produtor vir para cá e passar um tempo com a gente, então fizemos somente entre a banda, em um tempo mais curto, levando as ideias mais prontas. Mesmo assim a gente conseguiu aprontar mais de 10 músicas e estamos mandando aos poucos para o nosso produtor para fazer uma audição. Aí ele nos devolve com seus comentários do que achou, o que tem para mudar… é mais demorado, mas é a maneira que a gente está encontrando para fazer.
Gema: E os planos para esse ano? Você acha que vai dar para tocar?
Luis Mariutti: Eu não tenho muito feedback em relação a isso. No começo da pandemia o pessoal da produção achava que iria ter um jeito, mas a gente viu que não rolou, então eu acho que hoje em dia temos que trabalhar de outra maneira, pensar mais na internet e esperar o ok pra pensar em voltar a fazer show. A coisa está feia até aqui em São José dos Campos, ontem falaram que já teve recorde de mortes. Temos que esperar e explorar a internet, ela se tornou a única maneira por enquanto. Com o Sinistra a gente estava com a abertura dos shows do Sammy Hagar e iria lançar o cd nesse período, mas parou tudo. Vamos acabar lançando esse ano de qualquer jeito porque não da pra ficar esperando, temos que pensar diferente!
Foto divulgação Sinistra / Fonte Facebook oficial Luis Mariutti
Eduardo: E vocês estavam no começo da turnê. Como estavam sendo os shows com a entrada do Alirio Netto?
Luis Mariutti: Com a entrada dele, a gente pensou em fazer essa tour, porque no Reunion tínhamos feito poucos shows e aí quando a gente resolveu continuar com a banda, a melhor maneira seria apresentar o Alirio com shows, com uma música nova da fase dele para o público conhecer, sentir a banda. A química ficou muito boa e os fãs perceberam o cuidado, o respeito que ele teve com a memória do Andre e tudo isso acabou refletindo e com certeza foi a melhor escolha.
Foto divulgação Shaman / Fonte Facebook oficial Luis Mariutti
Gegê: Ele é um ótimo vocalista e o bom que ele quer ser o Alirio, sem tentar imitar o Andre.
Luis Mariutti: Sim, uma coisa é você saber cantar. Têm muita gente que vai em um karaokê e detona! Somente a reprodução não adianta, principalmente para substituir o Andre. Era um cara super diferenciado, formado, tocava piano clássico, então para substituir uma pessoa assim não poderia ser alguém que cantasse igual a ele, a gente não queria um cover do Andre, queremos um artista com seu próprio estilo e com alguma bagagem e isso tudo a gente conseguiu encontrar nele!
Gema: A morte do Andre foi um baque pra todo mundo!
Luis Mariutti: Foi realmente surreal! A gente estava em uma turnê, voltando, as coisas se encaixando, nossa amizade voltando, os shows bons, tudo rolando bem!
Foto Felipe Domingues / Fonte Facebook oficial Luis Mariutti
Eduardo: Vocês sempre tocaram muito fora do país, algum plano de uma turnê fora assim que as coisas voltarem a normalidade?
Luis Mariutti: Sempre tem, com certeza! A partir do momento que a gente lançar o álbum e com tudo isso acabado, queremos sair para a estrada. E o Alirio morando na Espanha também fica mais fácil. Hoje em dia a gente consegue planejar bem as coisas e a partir do momento que esteja liberado para ir e vir, a gente deve voltar a ir para a Europa, estou com saudades dessas coisas.
Eduardo: Desses festivais europeus que vocês participaram, algum que tenha sido especial para você?
Luis Mariutti: Festival eu tive a sorte de participar de vários legais desde o começo. O Angra já começou no Monster of Rock! Na Europa eu lembro de um com o Angra na França chamado Eurockéennes onde tocamos antes do Metallica, o Wacken… sempre sensacional! Gods of Metal na Italia, muita coisa boa e o último que toquei foi no Japão, quando ainda eu estava na banda do Andre, que a gente tocou com o Heaven and Hell, um dos últimos shows que vi do Dio e ele foi impressionante!
Foto Renan Facciolo / Fonte Facebook oficial Luis Mariutti
Gema: E o Público japonês? Como foi a reação?
Luis Mariutti: É uma educação impressionante! Antes do primeiro show do Angra nos disseram que estava “sold out”, mas antes de começar o show, no camarim, 5 ou 10 minutos antes de começar, eu não ouvia um barulhinho na casa, mas ela estava lotada. Na hora do show, claro, eles cantam. Em Osaka eles são um pouco mais roqueiros, agitam mais, mas eles tem um pouco de preocupação, várias regras a cumprir, nos mesmos tínhamos regras para seguir.
Eduardo: E mais algum país que te surpreendeu por serem mais loucos?
Luis Mariutti: Espanha, Portugal, França, Italia, são tipo o Brasil, mas um lugar que sempre foi muito foda pra gente, principalmente pro Angra, é a Argentina, é o contrário do Japão, antes de entrar, você já ouvia a multidão cantando tipo em estádio. Todo mundo pulando, cantando, arrepiava!
Foto Chibbas / Fonte Facebook oficial Luis Mariutti
Gegê: Luis, falando em show, qual a sua opinião sobre esses shows em drive-in?
Luis Mariutti: Cara, outro dia eu vi um em bolha! Cada um tinha sua bolha marcada. Eu prefiro fazer uma live. O do carro me parece menos mal, agora o de bolha não rola, é muito estranho! Tem que se acostumar com essas novas coisas.
Eduardo: E vocês fizeram uma live foda! Se demorar, pensam em fazer mais uma?
Luis Mariutti: Agora tem que ver quando o Alirio vai poder vir para cá livremente, mas realmente, aquela live foi muito legal, foi a primeira com o Alirio e a gente tentou reproduzir o show, claro que com uma interação, onde tinha os comentários e tal, mas eu gostei e foi uma maneira da gente tentar continuar de alguma forma, mas você não pode ficar fazendo várias lives, não é como um show, atinge muitas pessoas, vários países, daqui a pouco ninguém mais vê!
Eduardo: Você está bem ativo na internet com o seu canal, como está a sua relação com isso?
Luis Mariutti: A minha esposa que idealizou o canal, mas sempre me disse que tinha que ser uma coisa bem verdadeira. A gente levou essa mentalidade até para o ‘One Take’, se eu tocar e tiver erro, vai ficar assim, até porque estou tocando em cima do disco, eu prefiro assim, é um desafio. Surgiu até o desafio de velocidade do baixista italiano que tem um canal e fui bem. Deu um tempo até menor que o do dele!
Gegê: Como está o lançamento do seu livro ‘Memórias dos meus 50 anos’ ?
Luis Mariutti: O livro sai em março no dia do meu aniversário de 50 anos, dia 22. A gente teve a pré-venda física dele, agora estamos fazendo a pré-venda do e-book e conta toda minha história, eu não escondo nada, está tudo lá, de todas as bandas, todas as tretas, mas não de um jeito escroto, é a minha leitura de tudo e eu realmente não me escondi de nada, eu falo de tudo, de droga, de pobreza, dos perrengues que eu passei e levei para minha família, está tudo lá!
Gegê: Você foi eleito um dos melhores baixista do mundo pela revista japonesa Burrn!
Gema: E no Brasil muitas vezes!
Luis Mariutti: É sempre legal, claro que no Brasil a gente tem muitos fãs e muitos votos são deles. Eu estou sempre aprendendo, não tenho essa soberba de achar que porque ganhei um prêmio eu toco pra caralho, eu vejo muitos caras de vários estilos detonando e tento me influenciar por eles. Agora é claro que ver seu nome junto com Geezer Butler, Steve Harris, Billy Sheehan, em uma revista japonesa, da muito orgulho! Eu treinei e estudei muito o baixo, mas tudo isso pra mim vira história, não me gabo por isso, como está no livro e todo mundo sabe, não me dei bem financeiramente, perdi tudo e estou recomeçando! A gente conseguiu superar uma fase muito difícil, mas o bom é que tenho bastante bagagem e posso falar para os meus filhos, eu tinha um certo ressentimento de que os meus filhos não tinham me visto tocar e com os shows do Reunion eu me senti muito satisfeito de eles poderem acompanhar e ver os bastidores, ficaram fãs do Andre!
Foto Renan Facciolo / Fonte Facebook oficial Luis Mariutti
Gema: Qual foi o primeiro baixista que te impressionou e que idade você começou a ouvir Rock?
Luis Mariutti: Se você for considerar o Elvis Presley como rock eu comecei muito cedo, porque meus pais ouviam muito Elvis, Creedence… agora comprar um disco, foi com uns 9 anos que comprei o primeiro do Queen, e aí foi indo… com 11 anos, no dia do meu aniversário, saiu o “The Number Of The Beast” do Iron Maiden, lançado exatamente no dia 22 de março, por isso que eu usava a camisa com 666, muita gente me criticava dizendo que eu era ateu ou satanista, mas beleza (risos)! O Steve Harris foi o primeiro cara, a hora que eu ouvi o The Number eu pirei! Depois comecei a ouvir Rush, o Gezzer Butler, aí foi… o Lemmy também foi um dos primeiros, acho que a primeira musica que eu tirei foi “Stay Clean” do Motorhead. Eu pirava naquele solo de baixo!
Eduardo: Você teve a oportunidade de conhecer alguns de seus ídolos na estrada?
Luis Mariutti: Sim… o Dio… nos jantamos com ele, gente boa demais! O Kai Hansen do Helloween também é um cara que eu sempre admirei, eu gostava muito do Helloween com ele cantando e gravar discos no estúdio com ele… era em um bunker com mais de 40 salas onde se escondiam durante os bombardeios e viraram estúdios de música, além de ser um estúdio do Kai Hansen onde a gente gravou o Angels Cry e o Holy Land, no subsolo tinha o estúdio de ensaio do Gama Ray onde eu acompanhava os ensaios, vi o batera e o baixista do Helloween ensaiando e conhecemos todos eles depois. O Bruce Dickson que foi fazer um show com a gente em Paris! Foi surreal, o cara foi com o avião dele de Londres para Paris, chegou lá de moleton, tomou uma breja no camarim, cara, a potência vocal dele no palco é impressionante, eu quase não conseguia tocar com ele, queria olhar o cara cantando, era foda se concentrar, foi um momento muito especial! A gente estava grande na França! Ele tinha acabado de sair do Iron Maiden e fez um show em Paris para 1.500 pessoas e o Angra estava fazendo para 7.000 pessoas, então ele falou que era bom pra fazer a divulgação do disco solo, um cara humilde, impressionante! Fora os produtores, Chris Tsangarides que produziu o ‘Blizzard Of Ozz’, produziu Gary Moore, Thin Lizzy, o Roy Z também, é uma aula, você aprende muito com eles!
Eduardo: Que legal, 50 anos bem vividos!
Luis Mariutti: Exato, eu não tenho medo de recomeçar! Tenho uma família nota mil, minha esposa que segurou a barra de uma maneira impressionante e ainda me motivou a voltar, de 2012 até 2015 eu fiquei parado, só em 2016 que o Rafael me convidou pra tocar, mesmo assim eu não pensava em voltar, a Fernanda que me falou pra eu me ligar porque as pessoas não saberiam mais quem eu era, por exemplo a menina que fez a revisão do meu livro nasceu em 95! Começamos a criar o canal, eu não dava nem entrevistas, só tinha uma pose para sair nas fotos, mas fui aprendendo e já estamos fazendo há três. Claro que ainda falta muito, mas já temos uma diretriz, sempre com a verdade, sem muito floreio… Metal!
Foto Caio Martori / Fonte Facebook oficial Luis Mariutti
Eduardo: Gostaria de te agradecer novamente e dizer que pra gente é uma honra falar com você!
Luis : Eu que agradeço falar do meu livro, da minha vida, da minha carreira, eu gosto bastante de contar histórias, muito obrigado a vocês!
Assista a entrevista na íntegra abaixo:
Confira alguns Vídeos:
Discografia
“Alive in Hell”
Bruno Sutter
2017
“Seven”
Motorguts
2012
“The Gray Album”
Henceforth
2010
“Mentalize”
Andre Matos
2009
“Time to Be Free”
Andre Matos
2007
“Reason”
Shaman
2005
“RituAive”
Shaman
2003
“Ritual”
Shaman
2002
“Fireworks”
Angra
1998
“Holy Live” (EP)
Angra
1997
“Freedom Call”
Angra
1996
“Holy Land”
Angra
1996
“Live Acoustic at FNAC”
Angra
1995
“Evil Warning” (EP)
Angra
1994
“Angels Cry”
Angra
1993
Geraldo “Gegê” Andrade blogueiro e vlogueiro a mais de 15 anos. Iniciou sua paixão pelo rock n roll, nos anos 80, quando pela primeira vez, ouviu um álbum da banda KISS. Tem um currículo com mais de 500 shows, de bandas nacionais e internacionais. Um especialista em entrevistas, já tendo entrevistado vários músicos nacionais e internacionais.
Gema
Gema. 46 anos dos quais 32 foram consumindo e tocando Rock n Roll.
Baterista, de bandas da cena de são Paulo e agora fazendo rock n roll na Espanha com a banda THE ROCK MEMORY.
Edu Rod
Designer e músico apaixonado por arte e rock n’roll. Gaúcho de Porto Alegre, já morou em São Paulo, Nova York e atualmente reside em Madri, na Espanha. Em seu currículo como músico tem passagem como baixista das bandas Rosa Tattooada (Porto Alegre), Jungle Junkies (NY) e Monodrive (SP).
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About The Author
Geraldo "Gegê" Andrade blogueiro e vlogueiro a mais de 15 anos. Iniciou sua paixão pelo rock n roll, nos anos 80, quando pela primeira vez, ouviu um álbum da banda KISS. Tem um currículo com mais de 500 shows, de bandas nacionais e internacionais. Um especialista em entrevistas, já tendo entrevistado vários músicos nacionais e internacionais.