Entrevista Exclusiva com o baterista FRANCIS CASSOL (Rage In My Eyes)!
November 12, 2021 0 By Geraldo AndradeConversamos com o fundador da banda gaúcha Rage In My Eyes, o baterista Francis Cassol, que nos recebeu diretamente da cidade de Gramado/RS e contou sobre sua trajetória como músico, turnê com Paul DiAnno, abertura para o Iron Maiden e muito mais. Confira!
Foto Capa Crédito: Júlio Mendoza
Uma das mais tradicionais bandas de heavy metal do Brasil, a Rage In My Eyes (antigamente conhecida por Scelerata), acaba de lançar o ótimo EP “Spiral”. Com cinco faixas, o material apresenta composições criadas e gravadas durante a pandemia.
Para saber um pouco mais desse ótimo trabalho, conversamos com o fundador da banda, o baterista Francis Cassol, que nos recebeu diretamente da cidade de Gramado/RS. Francis também nos falou de sua história como músico, de seus projetos, da sua volta ao Brasil e muito mais. Confira a entrevista com Francis Cassol, baterista do Rage In My Eyes!
Foto Crédito: Júlio Mendoza
Gegê: Em primeiro lugar, muito obrigado por ter aceito o convite, está em Los Angeles?
Francis Cassol: Eu morei em LA um pouco mais de dois anos, mas retornei em setembro de 2020 e vim morar em Gramado. A gente sempre quis morar na serra. A volta pro Brasil foi meio forçada, a pandemia estourou e mudou os planos. As pessoas tem a visão que morar fora é tudo maravilhoso, mas na verdade não é bem assim… a gente rala muito. Estar em um país diferente, sem conhecer muita gente, é retornar a estaca zero em muitos aspectos. As coisas demoram para se estabelecer, voltar pra casa é muito confortável, a gente gosta de estar aqui perto da família, dos amigos, por mais que os nossos planos tenham sido interrompidos, é muito bom estar de volta.
Gema: Como foi o interesse pela batera?
Francis Cassol: Foi quase uma epifania, eu não sabia que gostava de bateria até ver uma. Eu vi um primo em Santa Maria tocar e me despertou um sentimento muito forte, ele era um pouco mais velho que eu e já tinha banda, eu fiquei fascinado. Só que ele não me deixava tocar e eu tive que fazer uma bateria caseira com as porcarias que eu tinha em casa e foi assim que eu comecei.
Depois eu assisti o show do Guns N’ Roses no Rock in Rio 2 na casa do meu primo e eu lembro que tinha várias músicas que eu conhecia, mas não tinha associado com a banda, quando eu vi aquelas figuras, cabeludos, tatuados, foi muito foda!
Foto Crédito Mariana Mantovani
Gema: E a paixão pelo Heavy Metal?
Francis Cassol: Eu morei nos Estados Unidos quando eu era criança também e a gente ouvia música na rádio, Kiss , Bon Jovi, Motley Crue, e até já tinha MTV lá, eu era muito pequeno mas eu já gostava da música. Depois com a MTV no Brasil, 92, 93, Guns N’ Roses, Metallica, foi aí que me pegou e nunca mais largou! Eu já estava na onda de tocar e lembro de querer fazer aula de bateria pra tocar em uma de verdade e eu ia direto nos classificados da Zero Hora, via toda semana os anúncios do Danilo do Leviaethan, e consegui convencer meus pais a me colocar na aula com ele.
Gema: E como foi tocar com o Paul DiAnno?
Francis Cassol: Lembro que o Renato Osório, que era o guitarrista do Scelerata na época, me ligou dizendo que tinha visto um anúncio no MySpace que o Paul estava procurando uma banda com a formação que a gente tinha, e na época, o nosso vocal tinha ido pra Londres e a gente tava meio parado. E quando o Renato me falou aquilo me baixou uma inspiração violenta e fiz um texto e foi incrível, um sentimento que ia dar certo, muito foda. No dia seguinte recebemos um retorno pedindo pra enviar uma gravação tocando 4 músicas ao vivo, enviamos e o cara curtiu muito, mas falou que no momento não tinha ninguém pra trazer ele pro Brasil, aí ligamos pro Ricardinho da Abstract, fizemos uma reunião e ele abraçou, a primeira turnê foi em julho de 2009.
Foto Divulgação Francis Cassol
Gema: E as músicas dessa época do Maiden não são fáceis de tocar!
Francis Cassol: Que bom ouvir isso, acho que não se dá o devido valor ao Clive Burr. A mão direita dele era incrível! E o Paul pedia pra gente acelerar tudo, as músicas já eram difíceis e rápidas.
Edu: E ele foi gente fina com vocês?
Francis Cassol: Foi, mas teve um episódio no primeiro show! A gente ensaiou pra caralho pra fazer essas turnês, a banda tava muito redonda. A gente fez um ensaio com o Paul, ele foi no ensaio. E aí começou o show e o Paul pediu pra acelerar já na primeira música, ele virava pra mim e pedia pra eu tocar mais rápido. Eu já sabia que ele pedia as músicas mais aceleradas, e por isso comecei o show com metrônomo, alguns BPMs acima dos originais. Pedi pro meu roadie desligar o metrônomo e então passei a ficar atento aos gestos e aos movimentos corporais dele para sacar como ele estava se sentindo e o que estava querendo. Tem vídeo dessa música no YouTube, e se tu olhar, vai ver que o show foi muito bom. Ele tem essa raiz meio punk e depois do show ele me chamou e falou que o metrônomo não servia pra esse tipo de som porque é uma coisa muito cerebral e a música tem que ser mais emoção. Então eu nunca mais usei metrônomo com ele. Mas foi só isso do começo, um período de ajuste, depois a gente se entendeu muito bem. Foi uma experiência incrível, a primeira vez que eu toquei como músico contratado, você tem um patrão e precisa entender o que ele quer. Fizemos ainda várias turnês juntos depois dessa.
Foto Crédito Gabriel Azambuja
Gegê: E como foi levar ele no CTG?
Francis Cassol: Eu não lembro exatamente como surgiu o contato mas foi ideia de um cara da RBS de levar ele para mostrar as danças, churrasco, chimarrão… deu uma matéria incrível, mas ele não curtiu o chimarrão.
Eduardo: Que experiência, ele é um cara muito importante para o heavy metal.
Francis Cassol: Sim, os primeiros discos do Maiden de certa forma mudaram o jogo, são discos de ouro, platina. O Paul foi convidado para entrar no Hall Of Fame do metal, não é um cara qualquer. A gente ainda teve a felicidade de contar com a participação dele em um disco nosso.
Foto Crédito Bárbara Sudbrack
Gema: E a Rage In My Eyes?
Francis Cassol: Então, uma das coisas legais do meu retorno é a gente poder trabalhar juntos, a distância não é a mesma coisa, estávamos trabalhando em músicas novas e chegou o momento de gravar e as coisas vem mudando tanto que o negócio de fazer um disco inteiro de 10, 11 músicas, é só pra Maidens e Metallicas da vida, as bandas menores não conseguem cativar as pessoas com discos longos. Hoje em dia ou é single ou EP, menos músicas, onde se consegue trabalhar todas elas e é isso o que a gente está fazendo, ao invés de lançar um disco como a gente lançou em 2019, com 11 faixas, agora a gente resolveu lançar um EP com cinco faixas, uma intro e mais quatro músicas inéditas. Estamos muito empolgados com as músicas novas, a gente acha que as pessoas vão gostar muito. Lançamos recentemente uma mais power metal, com uma mensagem bem forte, devido ao momento e tudo que aconteceu neste último ano, e tem uma mais folk que a gente aposta muito também, com bastante coisas da nossa região do sul, essa coisa da milonga, identificação da nossa cultura, que será o segundo single e depois tem um metal mais moderno e um mais tradicional na onda do Dio, está bem variado, mas com a mesma essência.
Foto Crédito Tiemy Saito
Gegê: E a formação agora é com um guitarrista só?
Francis Cassol: A banda começou como um quinteto, com duas guitarras, e no ano passado o Leo Nunes nos comunicou que queria abandonar a carreira de artista, o que foi uma pena porque ele sempre foi muito importante na engrenagem da banda, com uma opinião forte e como compositor também, e a gente resolveu respeitar a opinião dele e deixar as portas abertas pra se ele um dia quiser retornar, então a gente resolveu não colocar ninguém no lugar dele, não substituir ele, e se algum momento ele resolver voltar a tocar, as portas estão abertas.
Eduardo: E como foi a abertura do Iron Maiden?
Francis Cassol: Esse show foi incrível! Era pra ser meio estádio e vendeu tantos ingressos que teve que ser no estádio inteiro. Foi um acontecimento, aquela turnê gigantesca do Maiden, “Legacy Of The Beast”, e a gente teve essa puta honra, e o que foi mais legal, um sentimento de vitória, é que com o Scelerata, pouca coisa dava certo e com o Rage In My Eyes, a primeira oportunidade deu certo, a gente foi escolhido pra fazer a abertura, mandamos o material e fomos escolhidos, foi o primeiro show da banda Rage In My Eyes, em um estádio abrindo pro Iron Maiden, parece que agora a gente está fazendo as coisa certas.
Foto Crédito Ricardo Finnochiaro
Gema: Uma última pergunta, quais foram os bateristas que te influenciaram?
Francis Cassol: A lista é gigante, mas eu sempre falo que tem três caras que foram os que eu mais ouvi na vida, que são o Lars do Metallica, o Mike Portnoy e o Neil Peart, que são os três bateras que eu acho mais musicais dentro do estilo, mas eu não posso deixar de citar o Aquiles Priester, que é a minha grande referência dentro do power / prog metal.
Gegê: E o workshop com o Dave Lombardo?
Francis Cassol: Foi um evento muito massa, com quatro baterias gigantescas com dois bumbos montadas no palco do Opinião, porque a gente fazia a abertura, eu, o Eduardo Baldo do Hibria, o Renato Siqueira do It’s All Red, mais a batera do Lombardo. Primeiro tocamos nós três como abertura, aí o Lombardo fez o lance dele e depois a gente juntou todo mundo no palco e tiramos umas fotos, foi muito legal. O cara é uma lenda. Depois encontrei ele em Los Angeles e ele não lembrava de mim, é claro, mas falei com ele e foi muito massa.
Foto Divulgação Francis Cassol
Gema: São muitas histórias legais e é difícil fazer música no Brasil.
Francis Cassol: Se a gente for realista, fazer metal no Brasil é pra quem ama, ninguém faz por dinheiro e é por isso que a gente é melhor que os outros. A gente acha que é pior, que os gringos são melhores, mas não, nós somos melhores, porque não temos apoio, não temos acesso aos equipamentos, não temos o mercado que eles tem, então a gente fica sempre em segundo, terceiro ou quarto plano, mas nós somos melhores.
Eduardo: Queria te agradecer novamente por trocar essa ideia com a gente, te parabenizar pela carreira e te desejar muito sucesso.
Francis Cassol: Eu que agradeço pelo espaço.
Assista a entrevista na íntegra abaixo:
Confira vídeos de Francis Cassol:
Discografia Francis Cassol:
“Spiral“
Rage In My Eyes
2021
“Ice Cell”
Rage In My Eyes
2019
“The Sniper“
Scelerata
2012
“Skeletons Domination“
Scelerata
2008
“Darkness and Light “
Scelerata
2006
Geraldo “Gegê” Andrade blogueiro e vlogueiro a mais de 15 anos. Iniciou sua paixão pelo rock n roll, nos anos 80, quando pela primeira vez, ouviu um álbum da banda KISS. Tem um currículo com mais de 500 shows, de bandas nacionais e internacionais. Um especialista em entrevistas, já tendo entrevistado vários músicos nacionais e internacionais.
Gema
Gema. 46 anos dos quais 32 foram consumindo e tocando Rock n Roll.
Baterista, de bandas da cena de são Paulo e agora fazendo rock n roll na Espanha com a banda THE ROCK MEMORY.
Edu Rod
Designer e músico apaixonado por arte e rock n’roll. Gaúcho de Porto Alegre, já morou em São Paulo, Nova York e atualmente reside em Madri, na Espanha. Em seu currículo como músico tem passagem como baixista das bandas Rosa Tattooada (Porto Alegre), Jungle Junkies (NY) e Monodrive (SP).
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Geraldo "Gegê" Andrade blogueiro e vlogueiro a mais de 15 anos. Iniciou sua paixão pelo rock n roll, nos anos 80, quando pela primeira vez, ouviu um álbum da banda KISS. Tem um currículo com mais de 500 shows, de bandas nacionais e internacionais. Um especialista em entrevistas, já tendo entrevistado vários músicos nacionais e internacionais.