Entrevista exclusiva com o baixista do Korzus, DICK SIEBERT!

Entrevista exclusiva com o baixista do Korzus, DICK SIEBERT!

April 9, 2021 0 By Geraldo Andrade

Tivemos o prazer de conversar com o baixista do KORZUS, DICK SIEBERT, que nos atendeu diretamente de sua casa em São Paulo, via skype, e contou muitas histórias da trajetória de um dos maiores nomes do thrash metal nacional.

O KORZUS conquistou o título de “Guerreiros do Metal” não somente pela música que fez parte de uma das mais importantes coletâneas do metal no Brasil nos anos 80, o “SP Metal 2”, mas pela atitude e persistência de quem acredita no que faz e “faz o que gosta, entre amigos” como nos disse o próprio baixista DICK SIEBERT em uma entrevista exclusiva para a Revista Freak, onde contou sobre a trajetória de 30 anos de uma das bandas mais importantes do thrash metal nacional, o KORZUS. Check it out!

Foto Leandro Cherutti / Fonte Facebook oficial Dick Siebert

Gegê: Muito obrigado por ter aceito o convite! Uma lenda do Metal brasileiro! 30 anos de Korzus esse ano?

Dick: Tamos aí! A gente faz o que gosta, entre amigos, a banda segue em frente… A gente não tem muito problema, não tem disputa de ego, ninguém fica incomodado com a opinião do outro. Roqueirão velho, né cara!!

Gema: E uma banda muito importante para o cenário brasileiro! Korzus é um baita nome!

Dick: Vocês que estão falando!

Eduardo: Com certeza é!

Gema: Acho que o Korzus, o Sepultura e o Angra são são mais importantes. E o Korzus é de 83, né?

Dick: Sim, em 83 a gente começou em festivais de escola. Eu nem era do Korzus, era de uma banda chamada Alcatraz e a gente participou do mesmo festival de escola. Ficamos amigos e depois de uns três meses o Pompeu e o primeiro baterista, o Brian, vieram me procurar e perguntaram se eu queria fazer um som com eles e nunca mais… estamos até hoje!

entrevista dick siebert korzus

Foto Korzus / Fonte Facebook oficial Dick Siebert

Gegê: Vocês participaram do ‘SP METAL 2’, um dos álbuns mais importantes da cena de Heavy Metal brasileiro!

Dick: Foi algo incrível, porque na época quem gravava vinil era Roberto Carlos, Rita Lee, Mutantes, os “bacanão” do rock, isso pra gente era algo muito distante, e a gente apenas com uma apresentação, que foi em dezembro de 84, na apresentação do SP Metal 1, e gente foi convidado, tocou ali e nos chamaram para participar do SP METAL 2. Pra gente foi fora do comum e a partir dai a gente entrou no mercado do metal.

Gema: Era muito difícil fazer Metal no Brasil naquela época. É difícil até hoje, naquela época ainda mais!

Dick: Eu acredito que hoje é uma moleza, tá um mamão com açúcar! A informação é muito fácil! A gente tinha que descobrir e desbravar informação na unha. Você tinha informação através de xerox, de fanzine. Vimos a Rock Brigade em formato de fanzine preto e branco! A gente não tinha informação, quando ouvimos o nome Metallica em 84,  achamos que era uma banda aqui de São Paulo, do ABC, é um nome abrasileirado pra caramba né?

Foto divulgação Korzus

Gema: E como foi tocar no Rock in Rio?

Dick: Foi emocionante! Um marco da banda. Acho que um marco de um músico tocar em um dos maiores festivais de música do mundo né? Então foi uma honra ter sido convidado, fora as participações que tocaram com a gente, o Mike do Suicidal, East Bay Ray do Dead Kennedys, o João Gordo que é amigo nosso, o Schirmer do Destruction, então foi uma celebração do punk metal all star que criaram pra gente e foi legal pra caramba! Sempre digo que no primeiro Rock In Rio eu acabei não indo, ou eu ia, ou comprava meu baixo Giannini, e na época esse era o sonho mais próximo da minha realidade! Acabei comprando o baixo pensando que um dia eu poderia tocar nessa parada. Demorou 25 anos, mas eu toquei!

Gegê: Como foi tocar na Europa pela primeira vez em 1992? Eu vi uma entrevista tua falando que foi a quarta banda brasileira a tocar na Europa.

Dick: Acho que de metal, a segunda e das bandas brasileiras pesadas, as de punk, acredito quo o Cólera foi o primeiro, o Ratos de Porão, o Sepultura, daí a gente conseguiu essa façanha na época. Eram tempos difíceis, a primeira dificuldade era conseguir a passagem. Naquela época ir para a Europa era coisa de bacana, de playboy. Foi uma aventura, ficamos 60 dias, rodamos uns trinta mil quilômetros, fomos em uma van… era pra fazer meia dúzia de shows, e como a comunicação era por telefone, acabava um show e um maluco já ligava para outra cidade e falava que o show tinha sido bom pra caramba, aí já marcava o próximo, tudo muito rápido,  acabamos fazendo 22 shows! A gente chegou a ir na Espanha, em Madri, fomos convidados por uma gravadora que não recordo o nome, a gente foi, era pra lançar o álbum pela gravadora, mas a gente era muito louco. Chegamos apavorando e o pessoal da gravadora ficou com medo da gente!

entrevista dick siebert korzus

Foto Korzus / Fonte Facebook oficial Dick Siebert

Gema: E tocar pelo o Brasil? Os shows são cheios? Como está a cena?

Dick: O Brasil é forte né? Tem um público fiel do metal. Todo canto que você vai é tudo lotado, headbanger pra caramba em tudo quanto é lugar! A região nordeste e norte fortaleceu muito. Muita gente talentosa. O mercado brasileiro é grande, o problema sempre foi a economia, a rapaziada é dura, não tem grana pra entretenimento.

Eduardo: Lembro de uma época por 94 que vocês também estavam em uma fase legal pra caramba, com o Fernandão na batera.

Dick: Sim, o Fernandão e o Soldado. Todos continuam nossos amigos, a gente se fala. 

Gema: O Fernandão está fora do Brasil né?

Dick: Eu não sei, ele sai e volta. Tocou na Califórnia com o Powerflo, tocou na Europa, tá rodando, um puta baterista!

Eduardo: Eu tô ligado que você é um puta desenhista, como está isso? Continua fazendo os desenhos, os panos?

Dick: Eu trabalho com a música e arte paralelo, os dois são paixões! Esse lado dos cenários, esse ano da pandemia parou, mas eu continuo customizando instrumentos, pinto tela a óleo, eu vou produzindo, pego encomenda, mas diminuiu bastante esse ano, mas a gente continua trabalhando. Meu trabalho é mais orgânico, gosto de mexer com tinta, a parte digital já não me envolvo muito, não é meu barato.

Eduardo: Até esses panos de fundo você faz tudo na mão mesmo?

Dick: Sim, tudo na mão, em tecido com aerografia! Sou a impressão de um cara só! Estou produzindo várias imagens, capas de cds de um monte de artista conhecido do mercado, trabalho com bandas internacionais, bandas fora do Metal, colocar a arte no palco é outra coisa, você veste o palco! Quando me falaram que era Revista Freak, me lembrei dos Freak Brothers! Tenho o original número zero! Comprei em Nova York em 98 em um buraco, peguei uma bela grana nele.

entrevista dick siebert korzus

Foto crédito Sidnei Ribeiro / Fonte Facebook oficial Dick Siebert

Eduardo: E como vocês tem aproveitado esse tempo? Alguma música nova?

Dick: Vamos lançar um single, uma música nova, que na verdade não é tão nova, foi feita há 2 anos. Era para soltar na época mas não curtiram muito, que não era tudo isso e acabou ficando na manga. Um certo dia, no final do ano passado, o Eros e o Pompeu ouviram no carro e acharam demais! Já mandaram no grupo e disseram para ouvir o som, todo mundo curtiu. Resolvemos soltar ela agora e fazer mais som novo, que é uma coisa fácil pra gente, mesmo que a gente tenha nossos hiatos, demoramos pra lançar porque a gente tem aquele espírito antigo, fazemos as coisas quando estamos com vontade, não entramos nessa obrigação dessa velocidade virtual, a cada dois anos tem que ter disco novo, turnê. A gente trabalha de acordo com a nossa vontade, nosso coração e as coisas vão fluindo. Vamos soltar esse single que vai vir com videoclipe que está sendo produzido pelo Leo, o mesmo produtor que fez o último vídeo do Dee Snider, Megadeth, uma super produção, e também já temos gravado dezessete músicas que vai sair em uma coletânea. Já está quase tudo pronto!

entrevista dick siebert korzus

Foto / Fonte Facebook oficial Dick Siebert

Gema: Como estão as vendagens de disco, ainda vende muito?

Dick: Chega a vender porque tem os relançamentos que a gente acaba colocando bônus, bônus de ensaio, coisas que a gente nunca lançou, até gravação de fita cassete, mais fotos, um livrinho a mais e aí para o colecionador acaba ficando legal, pra quem curte a banda e acaba conseguindo vender, mas o físico mesmo… acredito que venda mais as coisas novas que a gente lança, como o livro que a gente lançou em 2019.

Gegê: Conta um pouco sobre esse livro, tem muita história!

Dick: Livro ‘Guerreiros do Metal’ né? Melhor título mesmo né? A gente carrega esse título de guerreiros do metal desde o SP Metal. É uma visão do meu amigo Mauricio Panzone que conhece a banda desde os anos 80, ele fazia fanzine, sempre acompanhou a gente e virou executivo, mas sempre esteve no meio do Metal e sempre foi nosso amigo. Ele ia escrever na época um livro falando sobre a cena dos anos 80 em São Paulo, do que ele vivia, e nas histórias só tinha Korzus! Ai decidiu fazer um livro sobre a história da banda e fechou! Ficou uns dois anos, quase três pegando depoimentos, confirmando acontecimentos, eu passei 80% do material que eu tenho guardado, pra não falar que eu sou acumulador, eu sou colecionador! Eu tenho tudo guardado por onde a banda passou, eu tenho um monte de tralha e foi um trabalho de quase 3 anos, eu fui um braço direito e deixamos o Mauricio livre pra contar o jeito que ele viu as coisas, então foi bem legal. Algumas histórias do além, muito conto, algumas ficaram na estrada, outras a gente queimou e não lembra e foi um livro bem comentado, bem aceito pela rapaziada, é um livro leve, verdadeiro e também a gente não coloca ressentimento de ninguém. Em um ano já foi a primeira tiragem e logo mais deve vir uma segunda que deve vir com umas fotos a mais.

Korzus: Os Guerreiros do Metal

Eduardo: Vocês já tiveram participações de André Mattos, Andreas Kisser e até o Ricardo Confessori participou da banda, conta um pouquinho para nós.

Dick: O Confessori nos ajudou nos anos 90, no final da turnê do Mass Illusion, quando a gente voltou da Europa e o Betão saiu da banda, nesse intervalo o Silvio já tocava com o Confessori em um Metallica cover e falou pra gente que ele era o cara pra terminar a turnê. A gente tinha procurado o Fernandão, que ainda era garoto na época, a gente fez um teste mas achou que ainda faltava um pouco pra ele e nesse intervalo a gente seguiu com o Confessori que ficou uns dez meses, mas já tinha nos falado que estava com um projeto chamado Angra, depois o Fernandão entrou. O André Mattos já conhecíamos desde a época do Viper, pra gente era como se fosse o Def Leppard do Brasil, molecada nova, de 16 anos que tocavam bem, era legal pra caramba, a gente era amigo dele, era de boa, e na época de 2004 que a gente lançou o ‘Ties Of Blood’, Laços de Sangue, e na teoria era laços de sangue que a gente tem com os músicos, com o público, com os outros estilos, porque o Korzus sempre foi uma banda agregadora, nunca fomos separatistas, a gente sempre pregou pela união, as bandas tocarem juntas, desde a época que a gente começou nos anos 80, com o Ratos de Porão que ninguém tocava, só a gente e Sepultura, sempre tinha controvérsias, a gente no começo era quase punk, as primeiras músicas que eu aprendi foram punks, eu jamais conseguiria tocar um Iron Maiden, um Judas, até Motorhead era difícil pra caramba, então eu ouvia muito punk e tenho uma relação com eles, e nessa de convidar no Ties of Blood, chamamos o Andre Matos que topou na hora e foi muito legal, apesar de um monte de crítica dos headbangers mais radicais, ficou incrível. O Andreas Kisser também sempre foi muito amigo da gente, o Hélcio Aguirra também, a gente até abriu pro Harpia, eles comeram a gente com farinha, eles tocavam muito e a gente não tocava nada, o show foi uma bosta e a gente até queria brigar com os caras porque achamos que eles tinham nos sabotado, aquelas coisa de moleque. Teve até uma música em português que a gente chamou o pessoal do Cólera, o João Gordo, essa rapaziada toda participou desse disco. É um disco que é sempre comemorado, até em 2019 a gente tocou ele inteiro em alguns shows.

entrevista dick siebert korzus

Foto crédito Sidnei Ribeiro / Fonte Facebook oficial Dick Siebert

Eduardo: A cena punk de São Paulo foi sempre muito forte!

Dick: Sim, nos anos 80 era forte, tinha muita treta né? Principalmente com os skinheads, headbangers do ABC, mas por incrível que pareça a gente era até amigo dos skinheads. Tinha uma camaradagem com essa rapaziada, porque a nossa gravadora tinha no selo uma banda chamada Vírus 27, uma banda de skinheads. Um dia o dono da gravadora nos ligou pedindo pra emprestar um amplificador e algum pedal que o som tava ruim. O Silvão levou lá e emprestou até a guitarra, os caras não acreditaram, no disco dos caras saiu agradecimento pro Korzus, depois a gente encontrava com eles não tínhamos problema, ficamos com passe livre.

Eduardo: Queria te agradecer e confirmar a importância do Korzus para o metal nacional! 

Dick: Obrigado a vocês! Valeu o apoio e boa-sorte pra revista de vocês! Graças a isso que a chama do metal continua acesa!

Assista a entrevista na íntegra abaixo:

Confira alguns Vídeos:

Discografia

discografia Korzus

Legion”

Korzus

2014

discografia Korzus

Discipline of Hate

Korzus

2010

discografia Korzus

Ties of Blood”

Korzus

2004

discografia Korzus

Live at Monsters of Rock” 

Korzus

2000

discografia Korzus

“KZS” 

Korzus

1995

discografia Korzus

Mass Illusion

Korzus

1991

discografia Korzus

Pay for Your Lies

Korzus

1989

discografia Korzus

Sonho Maníaco”

Korzus

1987

discografia Korzus

Korzus – Ao Vivo

Korzus

1986

discografia Korzus

Sp Metal 2” 

Coletanea

1985

marcelo gema

Gema

Gema. 46 anos dos quais 32 foram consumindo e tocando Rock n Roll.
Baterista, de bandas da cena de são Paulo e agora fazendo rock n roll na Espanha com a banda THE ROCK MEMORY.

eduardo rod

Edu Rod
Designer e músico apaixonado por arte e rock n’roll. Gaúcho de Porto Alegre, já morou em São Paulo, Nova York e atualmente reside em Madri, na Espanha. Em seu currículo como músico tem passagem como baixista das bandas Rosa Tattooada (Porto Alegre), Jungle Junkies (NY) e Monodrive (SP).

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