Revista Freak

Entrevista: ABEL CAMARGO, guitarrista do HIBRIA fala sobre a nova fase da banda

No final de 2017, um dos maiores nomes do heavy metal brasileiro, o Hibria, anunciava um desmanche em sua formação. Quatro dos cinco membros, pediram para sair, sobrando apenas o guitarrista Abel Camargo. Seria o fim da banda? 

Passado um ano e meio dessas mudanças, o Hibria, está de volta, com uma nova formação e mais forte do que nunca. Conversamos com o guitarrista Abel Camargo, que nos contou, como foi passar por esse momento difícil e como está sendo a volta daquela que é considera uma das maiores bandas do metal brasileiro, o HIBRIA.

Rock In Rio 2013: Pics by Antônio César.

Em primeiro lugar obrigado por ter aceito o convite para a entrevista:

Eu que agradeço a oportunidade de poder divulgar um pouco dos bastidores da retomada da banda, e do que vem pela frente com a nova formação do HIBRIA.

Finalmente temos um novo Hibria. Conte um pouco para nós como foi esse processo de escolha dos novos membros?

Na realidade, temos uma nova formação do HIBRIA, mas não um novo HIBRIA. Acho importante fazer essa distinção de modo a deixar claro que nós seguiremos em frente honrando o legado dessa banda que já soma 23 anos de estrada, assim como escrevendo a nossa própria história a partir do que está sendo criado agora.

Eu demorei quase um ano e meio para concluir o processo de seleção da banda. Aprendi muito com tudo isso, e, mais uma vez, sobre a importância da gente não desistir quando tudo parece diferente daquilo que planejamos. Minha ideia inicial era formar o grupo todo em Porto Alegre, e, no máximo ter um vocalista de fora, já imaginando que poderia ser de outro estado, inclusive.

Eu tinha muito claro na mente que tipo de músicos, pessoas eu estava buscando, e então foquei em tentar encontrar esses quatro novos talentos. Queria fazer tudo no modo mais sigiloso possível, e foi assim que dois grandes músicos foram anunciados, Guga Munhoz (guitarra) e Martin Estevez (bateria), mas logo decidiram deixar a banda para seguir outros rumos. Antes de eles saírem, juntos, testamos músicos para as outras funções, vocalista e baixista, mas chegamos à conclusão de que talvez a gente precisasse abrir essa busca publicamente, e foi o que eu fiz algum tempo após a saída deles, anunciando a audição para vocalista. Foi uma longa jornada com quase 100 inscritos do Brasil, e também de fora (Estados Unidos, México, Canadá), sendo que eu postei a notícia apenas em português. Já conhecia um pouco do trabalho do Victor Emeka (vocalista) com o Soulspell, e porque o Iuri o tinha elogiado muito também, mas ele mandou o seu material assim como todos os outros candidatos. Ele foi o escolhido porque, além de demonstrar um talento imenso nas audições cantando os sons do HIBRIA escolhidos para tal, se mostrou um cara comprometido, e muito afim da vaga.

Com o Emeka na banda, já éramos dois, e trocamos varias ideias juntos para definir o perfil dos outros três músicos. Coloquei algumas sugestões na mesa, ele outras, e fomos passo a passo executando o que tínhamos planejado, e abrimos as três seleções, internas, ao mesmo tempo. Chegamos ao nome do Alexandre Panta (baixista) e eu fiz o contato para convidá-lo a participar da audição, assim como eu fiz com todos os outros músicos. Uma chamada de vídeo olho no olho, e uma troca aberta, franca de ideias. A gente já tinha dado uma bela pesquisada no trabalho dele, e concordamos que ele era o cara para a banda. A audição dele foi feita em pouquíssimo tempo, o que demonstrou bastante do arsenal técnico que ele tinha à disposição, e da vontade que ele estava de juntar-se ao HIBRIA.

Com três no barco, e duas seleções ainda por serem concluídas, partimos para fechar a seleção para baterista e guitarrista, mas agora com o Panta também contribuindo para fechar o time, e somando as ideias dele as minhas e as do Emeka em relação ao perfil dos músicos. Mais um processo interno, e o Bruno Godinho não deixou dúvidas de que ele estava preparado para assumir uma responsabilidade desse tamanho, fazendo uma excelente audição para guitarrista.

Última etapa: Baterista. Foi feita uma seleção fechada com uns poucos músicos, mas decidimos abrir publicamente porque concordamos que ainda não tínhamos achado o perfil de que precisávamos. Assim como o Emeka, o Otávio Quiroga enviou o seu material como todos os outros candidatos, e foi selecionado para a segunda etapa. Passada a etapa da parte técnica (audição), que foi muito bem sucedida, a gente o convidou para bater um papo por vídeo com toda a banda e entender melhor como ele estava enxergando essa oportunidade, e ficamos muitos felizes em descobrir que além de um grande baterista, cuja carreira está apenas começando, ele também fechou no perfil que a gente esperava para juntar-se ao grupo.

Hibria 2019: Divulgação Hibria

Fale um pouco de cada novo integrante? O vocalista Victor Emeka, o guitarrista Bruno Godinho, o baixista Alexandre Panta e o baterista Otavio Quiroga.

Vamos lá. Uma das coisas mais importantes que eu buscava nesse novo grupo, desde quando planejei remontar a banda, era que, assim como nas demais formações, os novos músicos fossem versáteis. Que tivessem outras linguagens além do Metal para poder contribuir com o futuro musical do HIBRIA. E, é claro, estivessem afim de vestir a camisa do time e seguir em frente desbravando novos caminhos com a banda.

O Emeka é um cara que curte umas paradas que eu também curto demais tipo Groove, Funk, Black Music (estilos musicais com muito swing). Eu acredito que muito dessa interpretação tão bonita que ele dá para as coisas que ele canta vem dessas escolas aí. Bom, sem falar no lindo timbre vocal e alcance, aliados a toda a sua técnica. Ele só fica meio chateado comigo quando eu digo que eu prefiro o Andi Deris ao Michael Kiske, mas acho que ele supera com o tempo… (risos). Uma coisa legal de destacar também é o bom humor dele. Tem uma vibe sempre para cima, e isso é ótimo de se ter num grupo.

O Panta é um músico que toca de tudo. Tem uma pegada violenta no Metal, o que casou muito bem com o som da banda. O timbre de baixo dele também é um lance que merece destaque. Som pesado, definido, e com swing (o que não é fácil de encontrar em baixistas que só tocam Metal). Essa “cancha” toda que ele tem vem justamente da experiência de se tocar outros estilos e desenvolver a personalidade musical dele. Para quem ainda não conhece, ele tem um canal muito bacana no Youtube chamado “Fala Baixista”, no qual ele convida grandes músicos da cena brasileira para um bate papo, e demonstra o seu carisma na condução das entrevistas, além de fazer grandes jams com os seus entrevistados.

O Bruno é um exímio guitarrista, e um cara bem tranquilo. Sem sombras de dúvidas, é no departamento das guitarras que se encontra a sintonia mais fina de todas, e a parte que mais me diz respeito enquanto músico. Para uma banda de Metal soar bem com duas guitarras, elas têm que estar muito bem entrosadas nota por nota, literalmente. Quando eu tava pesquisando mais sobre ele, vendo vídeos e tal, sacar que ele também era um músico versátil, me deixou muito empolgado. Um dos vídeos que mais comprovam essa abrangência musical é um que tem no canal dele chamado “Pat Metheny Slings and Arrows solo”. Tocar em alto nível com e sem distorção é um grande mérito, e é algo que exige muita dedicação para ambas as tarefas, o que ele faz com maestria.

O Quiroga é um menino prodígio. Tocar o que ele toca com apenas 17 anos é algo realmente significativo. Apesar da pouca idade, ele toca com uma firmeza e técnica de dar gosto. É um cara que tá sempre estudando, aprendendo coisas novas, e que não tá se limitando a apenas tocar uma vertente musical. Isso vai ser essencial para as novas composições da banda. Quanto mais linguagens diferentes cada um puder trazer, melhor para o desenvolvimento das novas composições do grupo. Quem olha para aquele semblante sossegado dele, não sabe o “capeta em forma de guri” que está por detrás da bateria (risos).

As comparações com os antigos membros vão existir, o novo Hibria já está preparado para isso?

A gente já conversou, conversa bastante sobre isso, e estamos cientes de que elas sempre existirão. Comparar não incomoda, se for feito com responsabilidade. A pergunta que fica vale para os fãs de todas as bandas, e de qualquer estilo: Por que ficar comparando, sendo que a gente pode simplesmente curtir aquilo que já foi feito em outras formações (vídeos, shows, fotos, etc) e apoiar a formação atual de forma que ela também faça uma grande trajetória? Uma cosia não anula a outra. Eu sou um cara que curte demais a fase do Dio no BS, mas também curto o Ozzy. Não posso? Tenho que escolher apenas um? Quem disse? A propósito, também gosto do Tony Martin no BS. Felizmente, sentimos essa vibe positiva, esse apreço já desde o início desse novo grupo através da nossa base de fãs, e estamos nos esforçando para proporcionar a cada um deles a melhor experiência possível com essa nova formação.

Como tem sido a aceitação dos fãs, com os novos membros?

Excelente. A sinergia que tá rolando para a volta da banda é sensacional. Mal vemos a hora de pisarmos no palco e retribuirmos com um grande show. Sempre fomos uma banda séria, responsável, e tratamos quem entra em contato com a gente, seja num show ou por qualquer outro meio, com educação, respeito, carinho. E isso sempre foi assim. Desde o início da banda. Não é à toa que o HIBRIA tem uma fiel e fenomenal base de fãs tanto no Brasil quanto no Japão, assim como em muitos outros lugares do mundo.

A gente não estaria aqui se não tivesse fãs maravilhosos (as). Somos gratos a cada um que continuou nos apoiando mesmo em tempos de tantas incertezas e mudanças. O HIBRIA vem com força total, e muito em breve estaremos juntos, celebrando a volta da banda.

Como foi o primeiro ensaio da nova formação?

Foi ótimo. Mesmo sendo o momento em que estávamos nos conhecendo ao vivo, ensaiando pela primeira vez, o resultado de tudo, não só da parte musical, foi muito legal. Já teve um segundo ensaio, agora em junho, e foi melhor ainda. A evolução da banda entre os dois ensaios, com o período de um mês (primeiro foi em maio), foi excelente. Conseguimos fechar o repertório para os primeiros shows desse ano, e já adianto que ele está matador!

Hibria 2019: Divulgação Hibria

Antes no Hibria, todos os membros eram do Rio Grande do Sul, agora temos músicos de SP, MG e RS. Isso não vai atrapalhar os ensaios, reuniões? Onde vai ser o QG da banda?

A logística não é simples, mas tem funcionado muito bem, porque estamos todos comprometidos com as metas que estamos traçando. Eu ensaiava a 15 minutos da minha casa, e, hoje, vou para São Paulo passar o finde para ensaiarmos. Até então, um fim de semana por mês, com ensaios no sábado e no domingo. Todo mundo chega com a sua parte pronta, e daí é só ensaiar, criar, combinar algumas coisas para o show.

A gente faz uma reunião semanal por vídeo pelo Hangout do Gmail, que é o momento em que organizamos a maioria das coisas da banda. Fora isso, temos o nosso grupo de WhatsApp, e um outro da banda com a nossa produtora executiva, a Isadora Pisoni, de forma a deixar tudo bem esquematizado, com uma comunicação fluente.

O QG da banda é em São Paulo, e tem sido uma grande experiência a cada viagem. A gente sair da nossa zona de conforto, e desbravar novos territórios, só faz bem. Com planejamento, comprometimento, dedicação, para citar apenas algumas coisas importantes para se alcançar objetivos na vida, se vai ao longe.

Sempre quando se falava do Hibria, se dizia que era uma banda gaúcha. E agora como poderemos classificar a banda?

Boa pergunta…. Se for pela origem, sempre será gaúcha, mas, no que diz respeito à nova formação, realmente, difícil classificar porque são músicos que moram em três estados diferentes, sem falar que o Emeka, que mora em São Paulo, é baiano.

Foram mais de vinte anos sendo apenas gaúcha (desde o início em Porto Alegre, em 1996), e eu considero isso um grande feito, porque quem vem do Sul (ou de qualquer outra localidade longe dos grandes centros), já enfrenta de antemão as dificuldades geográficas e financeiras da mesma. Mas, mesmo assim, a banda cresceu, e se projetou com uma das bandas de Metal mais importantes do país de todos os tempos, e se tornou uma referência no Japão, desde o lançamento do nosso primeiro álbum, “Defying the Rules” (2004). Não é por acaso que a banda tem um DVD gravado em Tóquio, “Blinded by Tokyo” (2011), em uma casa de shows espetacular, lotada de fãs japoneses, e isso tudo começou aqui em Porto Alegre… Ou seja, a geografia pode dificultar, e dificulta mesmo. Mas, se a gente quer algo de verdade, não vai ser ela que vai nos impedir de conquistar.

Já temos algum material novo da banda?

Sim! Já temos um bom número de novas composições, e estamos muito empolgados com elas. Ainda estamos decidindo qual vai ser o formato do nosso primeiro lançamento. Se um single, EP, álbum completo. Aguardem que vem material de altíssima qualidade aí, algo que sempre foi um padrão na banda. A gente nunca lançou uma música se quer apenas por lançar. Sempre nos dedicamos ao máximo para oferecer algo que não apenas deixasse a nossa base de fãs orgulhosa, mas que deixasse a própria banda satisfeita também. Em resumo, não trabalhamos com “música para encher linguiça”. O que vem pela frente certamente será de muito bom gosto. Se não for, não lançamos. Vamos investir nas novas composições até chegar o ponto em que os cinco se sintam plenamente satisfeitos. Daí, é hora de compartilhar com o público.

Já tem uma ideia de como vão ser os primeiros shows com a nova formação? O setlist?

A gente está estudando cada oportunidade de show com muita cautela, pois queremos oferecer o melhor aos nossos (as) fãs. Fiquem ligados que vêm novidades no horizonte muito em breve…

Já definimos o setlist, e ele ficou de arrepiar. Vai ser um show intenso do início ao fim. Vai ter “Tiger Punch”, “Steel Lord on Wheels”, “Millennium Quest”, e também sons do Moving Ground, tocados pela primeira vez ao vivo, entre vários outros clássicos da banda. Acho que pela amostra apresentada já dá para ter noção de que o show vai ser “pegado”…

Rock In Rio 2013: Pics by Antônio César.

Você foi o único sobrevivente do desmanche que aconteceu na banda. Você chegou a pensar em parar com o Hibria?

Não foi nem um pouco fácil encarar a saída de todos ao mesmo tempo, mas eu organizei a minha cabeça, os meus sentimentos, e segui em frente. Eu diria que o único momento em que eu pensei que talvez fosse hora de parar com o HIBRIA foi logo após eu ficar sozinho de novo, quando os dois músicos que haviam entrado para a banda decidiram sair. Há mais ou menos um ano atrás, eu tive um problema na garganta (fechou quase que 100% e eu não conseguia engolir nem saliva, literalmente), aliado a altos índices de estresse e ansiedade, que me levaram a ficar internado em estado grave em um hospital por 12 dias. Eu passei dos limites, e paguei um preço alto por isso. Eu tava morrendo dentro de uma emergência hospitalar, sozinho (via os amigos e família apenas em pequenos horários de visita) e parecia que tudo o que eu tava tentando fazer não tava dando certo, iria dar certo. Felizmente, tenho grandes amigos, entre eles ex-músicos do HIBRIA, assim como pessoas na minha família que eu posso contar, e isso me deu muita força para superar essa tragédia pessoal e seguir em frente com força total. Quando eu saí do hospital, eu tava bastante debilitado. Perdi muitos quilos, estava me sentindo bem fraco, desanimado e pensativo. Passei algum tempo recluso, organizando as minhas ideias, e aos poucos fui tomando coragem e me reerguendo para não desistir do desafio de remontar a banda e seguir em frente. Só para terem uma ideia… eu tomei morfina, e ela não aliviou em nada a dor que eu sentia, que foi a maior que eu já senti na minha existência inteira. Foi a experiência de encarar a morte de frente te olhando nos olhos, mas não jogar a toalha. A vida é um grande presente e a gente tem que tentar ser feliz todos os dias, seguir os nossos sonhos. Eu amo esta frase do Iron: “If you’re gonna die, die with your boots on” (se você for para morrer, morra lutando). Para mim, esse é o Norte da vida.

No final de 2016, eu senti que poderia estar entrando em depressão, e comecei a fazer terapia, processo que durou cerca de dois anos. Fiz com uma terapeuta aqui de Porto Alegre, e ela foi muito importante nesse meu fortalecimento para tomar todas as decisões que eu precisava. Mesmo não estando fazendo terapia nessa época que eu fiquei muito doente, e reticente por algum tempo em continuar com a banda, eu me lembrava das coisas que a gente conversava e isso me ajudava a refletir e entender com mais clareza o que eu estava passando. Eu sou um cara saudável, que faz esporte, de bem com a vida, mas a depressão não perdoa ninguém, e temos que estar sempre bem atentos com isso. Acho importante conversar com as pessoas ao nosso redor se sentirmos que elas possam estar entrando em depressão, entender o que está acontecendo, estender a mão para quem precisa, e não ser omissos.

O que motivou aquela debandada toda?

Creio que um processo que foi se desenvolvendo ao longo dos anos. No segundo semestre de 2015, passamos por uma enorme frustração. Tivemos a nossa tour nos Estados Unidos e Canadá, que contaria com mais de 40 datas, cancelada por questões burocráticas, perdemos muito dinheiro com isso, e a responsabilidade por esse cancelamento não tinha sido nossa, o que nos deixou realmente revoltados com a situação. Nós tínhamos feito a nossa parte, mas não havia mais nada a fazer para realizar os shows. O Japão estava nessa tour, que era do CD “HIBRIA (quinto álbum da banda), na parte inicial, depois que vinha EUA e Canadá, mas todas os três países estavam conectados. Felizmente, conseguimos tocar lá porque eram outros tramites legais. Só de ter que lembrar dessas coisas já me dá uma tristeza gigante, imagina tu estar no Canadá para iniciar as datas e não poder tocar… Perder as passagens de volta, porque seriam dois meses para a frente, ter que comprar tudo de novo, perder toda a grana investida na parte burocrática (advogado, visto, petição), abrir mão da tua agenda no Brasil por dois meses, e por aí vai. A banda só não quebrou nessa época porque sempre fomos muito bem organizados. A gente perdeu uma grana alta que nos fez falta para muitos outros investimentos para o crescimento do HIBRIA, sem contar que ficamos realmente abatidos com tudo isso.

Não bastasse o acima, o mesmo aconteceu em 2016 com a parte da tour americana, de novo… Era para ser Canadá e Estados Unidos, mas conseguimos tocar só no Canadá, mais uma vez por questões burocráticas que não dependiam da banda para realizar a tour nos EUA. Foram dois golpes muito cruéis na gente. Sem falar que, no início de 2016, o Benhur, ex-baixista da banda, se desligou do grupo, sendo substituído pelo Ivan Beck, que fez um grande trabalho junto à banda no pouco tempo que esteve no grupo.

No início de 2017, O Iuri anunciou para a gente que iria deixar a banda no final do mesmo ano, e isso, obviamente, abalou a galera com tudo. Na metade do ano, o Dudu se mudou para os EUA para estudar no MI, e o Ivan comunicou que iria para Portugal no decorrer do ano. Chegado o final do ano, e a necessidade de se fazer o anúncio da saída deles, o Renato confirmou que também estaria focando na profissão de produtor, e não ficaria na banda. A decisão da saída dos quatro foi feito em dose única, mas o processo foi sendo desenvolvido ao longo do ano, no tempo de cada um. A gente ainda tava compondo, gravando o “Moving Ground” e não queríamos que nada atrapalhasse o processo. Queríamos dar o melhor, e foi o que fizemos. Por isso eu sigo afirmando: O músico precisa saber separar a parte pessoal da profissional. Não dá para levar para o lado pessoal uma decisão profissional (ficar magoado com a decisão profissional dos amigos e deixar isso influenciar negativamente na banda). Todos anunciaram a sua saída para se dedicar a outros sonhos, projetos nas suas vidas, e eu não acho que nenhum sonho é maior do que o do outro, por mais que a gente sempre ache que os nossos deveriam sempre acontecer, mas isso não depende só da gente. Temos que fazer nossa parte e aguardar o que vem pela frente.

Eu me sinto muito orgulhoso dessa formação anterior do HIBRIA (Abel, Iuri, Dudu, Renato, Ivan). Tivemos ótimos momentos juntos na banda, e a amizade, respeito, permanecem. Espero que a nossa trajetória possa servir de inspiração para outros músicos, artistas, bandas.

Lançamento CD “HIBRIA” no CIEE 2015: Pics by Sheiná Botega

O que te motivou a continuar com o Hibria?

O HIBRIA é um grande sonho que eu ajudei a dar vida há quase 26 anos, se for contar desde o tempo em que eu e o Marco (Panichi), baixista original e cofundador da banda comigo, começamos a tocar juntos. Isso representa grande parte da minha vida, e é algo que eu amo fazer. Tenho muito orgulho da nossa trajetória, e eu considero as coisas boas infinitamente maiores do que os momentos ruins, difíceis. As dificuldades vêm para nos dar mais experiência, nos fortalecer.

Como eu sempre brinco com o pessoal ao meu redor: Acabou só o primeiro tempo… O HIBRIA está novamente com uma formação sensacional, com sangue nos olhos e muito disposto a seguir em frente. Tem muita alegria no horizonte, assim como algumas decepções são inevitáveis, já diria a impermanência, e isso faz parte do jogo em qualquer profissão. Eu sou o tipo de cara que olha para o lado cheio do copo, e eu acredito que a banda tem ótimas perspectivas pela frente. O time tá excelente, assim como o clima, e essas duas coisas são essências para o sucesso.

O Melhor momento que você viveu com o Hibria?

Bah, são muitos… abertura para o Metallica (2010), Ozzy (2011), Black Sabbath (2013), Rock in Rio (2013), 6 passagens pelo Japão (2 Loud Park e quatro tours solo, incluindo a do DVD “Blinded by Tokyo), primeira banda brasileira de Metal a tocar na China… e por aí vai…

Eu acredito que pela expressividade, o Rock in Rio 2013. É surreal a visão que tu tens de cima do palco… o som bombando e a galera se divertindo. Música é para gerar alegria, entretenimento. Quando o cara sente que conseguiu gerar isso nas pessoas através da música, é missão cumprida com louvor, e assim foi o RIR.

Você tem contato com os ex-membros? Acompanha os novos trabalhos deles?

Sim. Fico muito feliz em saber que estão bem, e que seguem os seus sonhos. São músicos talentosíssimos, e gente boa. Certamente deixarão a sua marca por onde passarem também.

Eu, Iuri, Marco e Diego, da formação original do HIBRIA, temos o nosso grupo de WhatsApp, que é dividido da seguinte maneira: 90% do tempo é usado para falar, compartilhar bobagem, e os outros 10% para assuntos aleatórios. (risos)

Esses dias, recebi a ilustre visita do Renato e do Benhur, e foi de rachar o bico de tanto que rimos. Diversão pura.

Falo menos com o Dudu e o Ivan, mas os quero bem da mesma forma. Fiquei feliz demais quando soube que o Dudu seria o batera do Glenn Hughes para uma tour, e trocamos algumas mensagens sobre. O cara é fã demais do Glenn, e imagino o quanto isso tenha representado para ele. Também sei que o Ivan tá espalhando o seu talento por Portugal, e isso também me deixa muito feliz.

Os problemas de uma banda devem ser resolvidos com a banda, e internamente, assim como eu acho que a vida pessoal dos músicos é pessoal, e apenas os mesmos tem o direito de expô-la, se assim quiserem. Eu acredito que tu manter a amizade após ter passado tantos tempos juntos numa banda, e seguido caminhos diferentes, é uma linda prova de que, sim, é possível seguir amigos após não estar mais juntos num grupo, e todos, inclusive o público, só tem a ganhar. A gente mantém a amizade porque a gente se curte, gosta de estar em contato, fica feliz pelas conquistas uns dos outros. Agora, se tu só falas com ex-membros para tratar de business… hum… prova de amizade é que não é.

Lançamento CD “HIBRIA” no CIEE 2015: Pics by Sheiná Botega

Planos para 2019?

Fazer ótimos shows e continuar compondo para lançar um novo e poderoso material assim que possível.

Vais sentir aquele frio na barriga no primeiro show (risos)?

Com certeza. (risos) Frio na barriga é respeito. É aquela adrenalina boa que se mistura com a segurança de quem está preparado para o show, que faz aquele momento de estar tocando ao vivo ser tão especial. Não dá para subir no palco achando que o jogo tá ganho. O Jogo é jogado, e cada dia é diferente do outro. O cara tem que subir no palco preparado, com muita energia, vontade de fazer um grande espetáculo, e conquistar o público a cada segundo.

Quero finalizar te dando os parabéns por ter continuado com a banda e pela nova formação. Pode deixar um recado para os milhares fãs da banda?

Muito obrigado. Eu fico muito feliz com o teu apoio, Gegê. Tu és um cara que acompanha a banda de longa data, e sabe que a nossa luta é sincera. É pela arte, e não pelo holofote.

Eu gostaria de agradecer a cada um de vocês pelo apoio e energia positiva em prol da banda. Por receberem tão bem essa nova formação e vibrarem com a gente a cada etapa vencida. Também gostaria de agradecer a vocês pelo apoio dado aos ex-membros nas suas novas trajetórias.

O HIBRIA está de volta com força total, e muito em breve nos vemos ao vivo! Fiquem ligados nas notícias da banda seguindo os nossos canais oficiais:

Instagram: @hibriaofficial

Facebook: @HIBRIAOFFICIAL

Youtube: HibriaMetal

Quem quiser contratar o HIBRIA para o seu evento, só entrar em contato pelo hibria@gmail.com

Um forte abraço!

Abel Camargo

Hibria Discography

Defying the Rules

2004

The Skull Collectors

2008

Blind Ride

2011

Silent Revenge

2013

Hibria

2015

Moving Ground

2018

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