Entrevista: ANDREAS KISSER do SEPULTURA
June 5, 2020 0 By Geraldo AndradeConversamos com o ícone da guitarra e do metal, ANDREAS KISSER, que nos atendeu via skype em sua casa em São Paulo e falou sobre o lançamento do 15º disco ‘QUADRA’, SEPULQUARTA, e muito mais!
Crédito Foto Capa: Marcos Hermes Fotografia
O SEPULTURA é seguramente a maior banda de Heavy Metal do Brasil, e uma das mais importantes do mundo! Com sua música pesada, direta e com uma sonoridade diferenciada, cheia de personalidade e atitude, refletindo a realidade do terceiro mundo, quebrou todas as barreiras chamando a atenção no mundo inteiro e influenciando toda uma geração de novas bandas.
Com o lançamento do seu 15º trabalho de inéditas, “Quadra”, o Sepultura mostra que estão mais entrosados que nunca, aproveitando ao máximo toda a qualidade que cada músico da atual formação tem a oferecer.
No meio de toda essa pandemia que está transformando o mundo e principalmente o cenário musical, conversamos com Andreas Kisser, que nos atendeu via Skype, diretamente de sua casa em São Paulo. Check it out!
Crédito Foto: Divulgação
Eduardo: Primeiramente queremos agradecer a você e dizer que somos fãs do Sepultura desde o começo e aproveitar para perguntar se tem como dimensionar, como integrante da banda, da importância que o Sepultura teve no cenário mundial, influenciando e mudando a direção do metal da nova geração?
Andreas: É uma história de 36 anos fazendo esse tipo de som no Brasil com todas as adversidades que você tem. Mas não meço nada, tem gente que já ouviu falar e gente que não ouviu falar da banda. Não me interessa muito, mas respeito as opiniões de cada um. Viajamos 80 países em 36 anos, vimos sociedades diferentes, culturas diferentes, religião e políticas diferentes, aliás o próprio ‘Quadra’ fala a respeito disso. Tudo depende de como foi a sua educação, sua escola da tradição do seu país e nós somos vítimas disso. Criamos estereótipos e no fim é tudo a mesma merda, ninguém é obrigado a gostar do Sepultura. Temos uma legião de fã absurda que mantém essa banda ativa. Não ligo para o que vão falar daqui a 20 anos sobre a minha arte.
Crédito Foto: Marcos Hermes Fotografia
Gema: Estou vivendo aqui em Valência, na Espanha, e posso te dizer que hoje em dia quando falo que sou brasileiro, as pessoas já não falam mais do Pelé ou samba e sim Sepultura. Virou uma coisa muito forte e um orgulho para nós.
Andreas: Incrível né? Eu já ouvi histórias de amigos meus que por estarem usando uma camisa do Sepultura, não pagam coisas, ganham diárias de hotel e é impressionante isso, a gente tem um respeito gigantesco hoje em dia!
A gente sempre investiu na carreira internacional, porque se você faz uma coisa legal lá fora, o brasileiro te respeita. Para o brasileiro não vale se não tem sucesso! Mas até os Beatles tiveram que sair de Londres e ir para Hamburgo para fazer sucesso, a mesma coisa o Deep Purple. E o Sepultura foi assim, brasileiro pirou quando o ‘Beneath the Remains’ ficou na frente do New Order, aí veio o Rock in Rio, e o Brasil começou a perceber o Sepultura, ‘Orgasmatron’ começou a tocar em rádio no Brasil.
Crédito Foto: Marcos Hermes Fotografia
Eduardo: Eu estava lá no Rock in Rio, e a primeira vez que vi vocês foi em Porto Alegre na turnê do ‘Arise’.
Andreas: A gente nunca teve apoio do governo do Brasil, a gente é como esses atletas que ganham medalhas de ouro e ninguém nunca deu apoio, O Brasil não dá apoio para nada. Seja ele de direita ou de esquerda, sempre fomos sozinhos! Brasileiro não dá valor sem o aval do gringo. O metal brasileiro é muito representativo com bandas que representam o Brasil e tem ajuda zero! E estamos cada vez mais no retrocesso, com o papo de que rock traz o aborto! Aqui no Brasil é tudo 10 vezes mais difícil.
Eduardo: E agora temos os artistas se reinventando por causa dessa pandemia!
Andreas: Arte é assim, sempre tem as pessoas que mudam a trajetória, caras como Mozart, Bethoven, eles quebravam as regras e mostravam outros caminhos. Vamos abrir outras portas. A história do Sepultura é essa. Vamos trabalhar com o agora! Estamos na nossa melhor fase, organizados. O ‘Quadra’ é a consequência disso.
Eduardo: É um grande disco mesmo e o Eloy é um animal na bateria!
Andreas: Não, o Eloy é algo além do ser humano!
Crédito Foto: Dede Moreira
Eduardo: E o SepulQuarta? Está demais!
Andreas: É a gente criou por causa da falta de shows, se você olhar nossa agenda agora de verão europeu da vontade de chorar, shows e festivais, iríamos tocar todos os dias praticamente. Então criamos isso para ter a conexão com os fãs e estamos trazendo convidados como o João Gordo. Vamos trazer mais, conhecemos muita gente. Temos muita história para contar e tocar o ‘Quadra’. Live ainda acho um pouco arriscado pela confusão que tem no Brasil. Aqui nada anda. Queremos criar conteúdos exclusivos.
O Derrick está em Los Angeles, muita burocracia para tudo agora, assim que pudermos, vamos fazer live e estúdio. Vamos no dia-a-dia agora, temos que controlar esses números aqui para reconstruir o que quebrou.
Eduardo: Tem também o storyteller!
Andreas: Pois é! É uma coisa bem legal, até mesmo a do Eloy tinha muita coisa que eu não sabia, é uma coisa mais aberta! Na próxima quarta falarei do ‘Roots’!
Gema: Acho o ‘Roots’ um puta álbum, realmente transgressor.
Andreas: Também acho! Um disco único que ninguém conseguiu fazer, nem antes, nem depois. Nem o Sepultura conseguiu, nem o próprio Max, que tentou reproduzir. É um álbum único e que se você escutar ele hoje, parece que foi feito ontem! Acho que a gente realmente conseguiu ter essa química entre a banda e o Ross Robinson, especialmente o Andy Wallace que mixou e fez um trabalho de mestre! A gente estava num espírito de fazer percussão e longas jams!!
Gegê: Vamos falar do ‘Quadra’. Como é que rolou aquela homenagem ao Mohamed Ali ?
Andreas: Ah cara ele é uma das maiores personalidades da história desse planeta, eu acho que ele traz um otimismo, é respeitoso fala perfeitamente, gramaticalmente o inglês, ganhou duas medalhas de ouro pelos EUA, depois virou muçulmano trocou o nome e disse não para a guerra do Vietnam, quebrou várias regras da Quadra dele. Para mim e para o Derrick, principalmente como negro e americano, tem um orgulho enorme dele. Ele perguntou para a mãe a razão da cor preta ser sempre negativa. Foi um questionador!
Eduardo: Desde que o Derrick entrou na banda, vocês tem conseguido explorar mais essa parte vocal, mudando um pouco estilo da voz!
Andreas: O Derrick desde o ‘Against’ faz isso, aliás entrou na banda para trazer essa qualidade. Ele tem uma voz maravilhosa, tanto que no ‘Against’ existem músicas assim! Exploramos agora essa coisa mais melódica. A gente está aumentando e explorando mais nossas experiências. E a formação da banda que já está junta há 10 anos com o Eloy, tudo isso é uma consequência, o ensaio rola para tocar mesmo, estamos bem entrosados. E toco por prazer. E vamos evoluindo e estudando!
Crédito Foto: Divulgação
Gegê: E como é tocar com o filho?
Andreas: Sensacional, porque ele é um músico brilhante, essa geração é demais, fui num show dele com o filho do Carlinhos Brown foi sensacional, tocaram ‘Yes’ e outros sons mais complicados e eu perguntei, cadê Paranoid? Smoke on the Water? mas para eles é assim.. Ele é muito dedicado. Estamos estudando juntos e temos um programa de rádio. Já são 8 anos de programa. As coisas estão fluindo.
Gema: Vocês tem noção do país que vocês mais fazem sucesso depois do Brasil?
Andreas: De acordo com o Facebook é a Indonésia. Fizemos um show histórico lá antes do Metallica, e o show do Metallica foi um caos, teve gente morta, polícia… e depois a Indonésia ficou sem show, mas o nosso foi surreal. Éramos muito famosos lá!! 2 shows lá com 60 mil pessoas cada. Voltamos depois em 2004 e temos um respeito absurdo! Porque fomos lá quando ninguém ia, fomos para a Rússia, para a Polônia logo depois do muro cair, era muito louco. O ‘Arise’ nos levou ao mundo todo!! Fora que nessa época o tricolor paulista ganhava tudo. Eu usava tanto a camisa do SPFC que meu filho achava que eu era guitarrista do São Paulo FC!
Crédito Foto: Divulgação
Eduardo: Lembro que você tinha um projeto também que acontecia no ‘Blen Blen’ em São Paulo que eu fui algumas vezes.
Andreas: Sim, comecei em 2002 e toda quarta-feira eu trazia convidados, tocava com todo mundo, tinha dias lotados e dias vazios, era maravilhoso. Muita gente boa tocava lá! Fazia uma mistura mesmo! Eram jams únicas!
Eduardo: Andreas, queríamos agradecer o bate-papo e aguardamos vocês por aqui na Europa!
Andreas: Valeu somos aliados do Metal! E a hora que for possível estaremos de volta!!!
Veja a entrevista na íntegra abaixo:
Discografia Sepultura:
“Quadra”
2020
“Machine Messiah“
2017
“The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart”
2013
“Kairos“
2011
“A-Lex“
2009
“Dante XXI”
2006
“Roorback“
2003
“Revolusongs“
2002
“Nation“
2001
“Against”
1998
“Roots”
1996
“Chaos A.D.“
1993
“Arise“
1991
“Beneath the Remains”
1989
“Schizophrenia”
1987
“Morbid Visions”
1986
Geraldo “Gegê” Andrade blogueiro e vlogueiro a mais de 15 anos. Iniciou sua paixão pelo rock n roll, nos anos 80, quando pela primeira vez, ouviu um álbum da banda KISS. Tem um currículo com mais de 500 shows, de bandas nacionais e internacionais. Um especialista em entrevistas, já tendo entrevistado vários músicos nacionais e internacionais.
Eduardo Rod
Designer e músico apaixonado por arte e rock n’roll. Gaúcho de Porto Alegre, já morou em São Paulo, Nova York e atualmente reside em Madri, na Espanha. Em seu currículo como músico tem passagem como baixista das bandas Rosa Tattooada (Porto Alegre), Jungle Junkies (NY) e Monodrive (SP).
Gema
46 anos dos quais 32 foram consumindo e tocando Rock n Roll.
Baterista, de bandas da cena de são Paulo e agora fazendo rock n roll na Espanha com a banda THE ROCK MEMORY.
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Geraldo "Gegê" Andrade blogueiro e vlogueiro a mais de 15 anos. Iniciou sua paixão pelo rock n roll, nos anos 80, quando pela primeira vez, ouviu um álbum da banda KISS. Tem um currículo com mais de 500 shows, de bandas nacionais e internacionais. Um especialista em entrevistas, já tendo entrevistado vários músicos nacionais e internacionais.